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COLUNISTAS / Falando de teatro

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02/04/2015

Em minha primeira crônica gostaria de dividir, com os leitores do site, um sentimento ímpar que estou vivendo durante essa instigante experiência que é dirigir artisticamente o novo Teatro Teresa D’Ávila. 
Quando, em 2013, resolvi aceitar o desafio de comandar a reforma de mais um espaço cultural em nossa cidade, o antigo Espaço Arte, na Fatea, hoje transformado numa moderna e acolhedora sala de espetáculos, tive que tomar uma decisão difícil: deixar o Rio de Janeiro, onde morei por quase trinta anos, e me estabelecer em Lorena. Complicado, já que minha vida profissional foi forjada no Rio e recomeçar um novo momento em terras lorenenses significava, a princípio, romper com uma carreira já estabelecida, onde tive inúmeras experiências no teatro carioca e iniciar uma nova trajetória. 
Sempre fui meio nômade; mesmo estabelecido no Rio de Janeiro, passei por várias outras cidades, com permanências variadas, desde quase quatro anos em Buenos Aires, até alguns meses em vários outros lugares, sempre por força do meu trabalho no teatro. Porém, voltava pra casa. Mas quando resolvi morar em Lorena foi diferente. Significou, entre outras coisas, desmontar minha moradia no Rio e voltar de malas e bagagens para a terra de origem. 
Perder o convívio cotidiano com os meus amigos cariocas era a parte mais difícil. E me afastar da cidade também. Viver no Rio foi uma experiência fundamental na minha formação, tanto no teatro quanto na vida. Havia, no entanto, um desafio quase sagrado: participar da criação de uma nova sala de espetáculos em Lorena, quando via, lá no Rio, várias outras sucumbirem à falta de manutenção, atenção e respeito por parte das autoridades que, teoricamente, cuidavam da cultura. E embutido nisso tudo havia, igualmente, um sonho secreto: de que, algum dia, de alguma forma, iria me reencontrar com meus amigos cariocas no novo espaço da minha querida cidade. E não é que, em menos de um ano de trabalho no Teatro Teresa D’Ávila, isso começou a acontecer? 
Primeiro veio a turma que ajudou na construção do teatro, os integrantes da D5 Produções, responsáveis pela implementação técnica da nova sala. Adriana Ortiz, Jandir Ferrari, Serjão, Russinho, Careca, enfim, amigos de outros tempos, que trabalharam comigo em produções anteriores que vieram pra cá nos ajudar na realização desse novo sonho. 
Inaugurado o teatro, logo de cara veio a Mesa 2 Produções, do Roberto Monteiro, meu amigo da vida inteira, e do Fernando Cardoso, igualmente parceiro em um monte de outras aventuras. Eles trouxeram “Palavra de Mulher”, com a Lucinha Lins, Tânia Alves a Virgínia Rosa. Depois veio o Guga – Gustavo Rodrigues, com o incrível “Billdog”. Logo em seguida, a Vera Alejandra, com “Andanças Flamencas”. Recentemente, o Luis Melo, com “Ausência”, e no próximo dia 17 chega o Marcos Breda, com a imperdível “Oleanna”. Todos amigos de outros tempos, com quem tive a honra de trabalhar, alguns por mais de uma vez, durante minha aventura carioca. 

Virgínia Rosa, Lucinha Lins e Tânia Alves, em ‘Palavra de Mulher’

Vera Alejandra em ‘Andanças Flamencas’

Luis Melo em ‘Ausência’

Gustavo Rodrigues, em ‘Billdog’

Marcos Breda, em ‘Oleanna’ (Fotos: arquivo pessoal)

Então, se algum dia eu tive dúvidas se deixava ou não o Rio para viver essa nova fase em Lorena, parece que fiz a escolha certa. Resgatei, aqui, meus amigos de infância – de certo modo estavam afastados –, participei da criação de um novo espaço em nossa cidade e, ainda por cima, posso, agora, receber parceiros que acreditam, como eu, na importância do teatro e farão por ele tudo o que puderem, para que a arte do palco esteja sempre viva. Seja onde for. 

COLUNISTAS / Caio de Andrade

Dramaturgo, diretor e produtor teatral, Caio de Andrade nasceu em Lorena (SP), no dia 25 de novembro de 1960, e construiu sua carreira no Rio de Janeiro.

Formado em jornalismo, trabalhou na TV Manchete e SBT.

Ao longo de seus dez anos na televisão, fez inúmeros cursos e oficinas de teatro, chegando a dirigir alguns espetáculos. Nos palcos, como autor e diretor, vem construindo uma ponte entre o teatro e a história do Brasil. Foi o criador do Projeto História em Cena, no Centro Cultural Banco do Brasil – RJ, que levou milhares de estudantes ao teatro ao longo dos seus três anos de existência.

Participou de encontros com importantes companhias inglesas, na área de teatro-educação e de inúmeros festivais no Brasil e no exterior.  É, hoje, um dos profissionais de teatro mais atuantes e premiados da sua geração.

Foto por: Rodolfo Magalhães


cdeandrade@uol.com.br

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