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COLUNISTAS / Perai, vem cá

Brevidade

08/05/2015

Por Heron de Freitas Santiago
Tudo começa com o chamado tímido da criança menina mais velha na sacada – mais entediada do que tímida – para criança menino mais novo do outro lado da rua.
Dois magros braços encolhidos junto ao corpo. 
Mãos abaixo do queixo.
Só os quatro dedos da mão direita e a franja sobre as sobrancelhas se movem com o chamado.
Calado.
O recado chega.
A resposta da criança menino mais novo é abandonar o que está fazendo e ir até o adulto do dia pedir para brincar.
O pedido.
A permissão.
A grande travessia da rua bravia.
A chegada.
Brincadeira e diversão indiferentes, desleixadas, em conjunto e solitárias.
O tempo não voa praticamente teleporta-se para a reconvocação do adulto do dia.
Nada importa. 
Hora de ir embora.
Rompimento submisso, mas sem drama, sem sofrimento, só suficiência.
Um chorinho de tempo para brincar e o tchau para criança mais velha.
Platônica.
Fetiche.
Um tchau para o resto adulto também (protocolo, se não castigo).
A travessia bravia na volta – sem amanhã para pensar.
Cada chamado da menina não era esperado, não era sofrido. 
Por isso, inclusive, não sei por que parou ou quando parou.
Nem notei, mas a nostalgia voltou quando sentei esses dias na mesma varanda e olhei para a sacada opaca no outro lado da rua, completamente órfã de menina.
Aquelas cores agora, só dentro de mim porque a sacada não me cabe mais e a menina já é uma mulher desconhecida.
Por outro lado, a suficiência, depois de vinte e tantos anos está mais que de volta à minha varanda.
Seja bem vinda! Hoje sou eu o adulto do dia.
Fique à vontade, não temos hora para parar de brincar.

Sobre o autor:
Heron de Freitas Santiago, lorenense, vinte e seis anos e é membro fundador da AJLL. Com uma criação diversa e repleta de boa vontade, cresceu sendo estimulado à pluralidade e à integração de conceitos. Tendo as artes plásticas como expressão artística primária, procura compor seus textos de forma libertária, sem amarras de qualquer espécie, para traduzir com propriedade o que transborda de si.
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário

COLUNISTAS / Academia Jovem de Letras

Espaço reservado às produções dos acadêmicos da Academia Jovem de Letras de Lorena.  Membros da AJLL: Beatriz Neves, Camila Loricchio, Danilo Passos, Gabriela Costa, Gustavo Alves, Gustavo Diaz, Heron Santiago, Isnaldi Souza, Jéssica Carvalho, João Palhuca, Julia Pinheiro, Lelienne Ferreira, Lucca Ferri, Samira Tito, Thiago Oliveira, Vânia Alves e Wagner Ribeiro.


samira_007_@hotmail.com

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