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Declaração de amor a Lorena: o Rio de Janeiro continua lindo, mas meu coração está ancorado em um nome de mulher

14/07/2015
Por Maria Clara Vieira*
Quase todas as vezes que volto para o Rio/Niterói, volto com o coração apertado. É verdade que nunca me arrependi de viver aqui. Gosto das praias, da paisagem, das lojas, dos bares e das pessoas. Gosto da faculdade, do estágio, do balé e das oportunidades que se descortinam diante dos meus olhos a cada pauta, a cada novo contato e telefone anotado às pressas no meu caderninho garranchudo de apuração. Gosto de me virar sozinha, de cuidar de mim e de me sentir desconhecida pelos bairros da cidade. De certa forma, faz bem para quem é ansiosa até o último fio de cabelo – e costuma cantar e dançar involuntariamente pelas ruas.
Mesmo assim, toda vez que o despertador toca às 2h20 de segunda-feira para esperar a carona para Niterói ou quando salto na Rodoviária Novo Rio, deixo escapar um suspiro doloroso. A despeito do incômodo de viajar de madrugada e dos perrengues que me aguardam no trecho entre a plataforma do ônibus e a entrada no 100 (Novo Rio – Niterói), não tenho dúvidas de que o aperto no peito tem outro nome.
Não me lembro de ter passado mais de uma semana no Vale desde a última greve da UFF, em 2012. No começo de junho, acabei ficando costurada no sofá de casa por duas semanas graças ao mosquito da dengue. Devo ser honesta e dizer que não pensei duas vezes para voltar ainda doente para o Rio para comemorar o Dia dos Namorados (“O que tem pra fazer aqui, pai? Não fico mais nem um dia!”), mas a quinzena “de molho” me deixou num “banzo” terrível de saudade. Voltar para a Cidade Maravilhosa nunca me fez sentir tão só.
Morar longe faz a gente pensar no que perde por não estar perto – mesmo que não se arrependa de ter partido. Pensei nas minhas irmãs e em quantas conversas de cozinha perdi nos últimos anos. Quantas reclamações de namorados, quantas risadas, casos e acasos. Pensei na minha melhor amiga, nas baladas que deixamos de curtir e novos amigos que nunca conseguimos apresentar. Deus sabe o quanto me esforço para me manter a par de tudo e garantir que a Terra das Palmeiras nunca deixe de ser meu lar. A sensação de paz e segurança que me invade toda vez que o carro entra na avenida Peixoto de Castro deve ser sinal de que está funcionando. Sem falar nas caminhadas pelo centro (sem grandes novidades!), no sorvete da praça e na pipoca ao lado da Foot Company. Nas lojas que ainda usam carnê e restaurantes que a gente “põe na conta”. Coisas que as cidades grandes já desconhecem.
Sinto falta de entrar na igreja aos domingos e perceber ao menos um rosto conhecido em cada banco. De dar a “paz de Cristo” e completar com “como está sua mãe?”, “seu bebê cresceu muito” ou “vamos marcar um café, o problema é que eu tenho vindo pouco”. Certa vez, um padre querido comentou em uma missa que, se pedisse que todos os “Aquino” saíssem da igreja, ele ficaria sozinho. Mesmo porque eu, meus pais e minhas irmãs já ocupamos um banco inteiro.
Agradeço de coração aos queridos que me acolheram e acolhem todos os dias nessas terras da Baía da Guanabara. Não é justo dizer que a todo tempo estou só, mas tem dia que a saudade aperta. Tudo isso para dizer que o Rio de Janeiro continua lindo, mas meu coração está ancorado em um nome de mulher.
Sinto sua falta, Lorena. Mais do que costumo admitir. 

* Maria Clara Vieira é quase jornalista, carioca por formação e lorenense de coração

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