
André Melo. Foto: Raphael Rodrigues
Por Thiago J. S. Oliveira
Quanto custa contar uma história? Essa pergunta deve ser uma das que mais perseguem os diretores e autores ao lançar uma peça. O valor ao certo dificilmente será calculado e corretamente aplicado, mas ver e ouvir uma boa história pode sair por menos de trinta reais.
No fim de semana do dia 20 de junho, num sábado frio e sem muito movimento, estreou a peça “O Cordel de João Vagalume e o Gigante que roubava chuva”, texto de Cássio Borges e Matteus Almeida e direção de Cássio Borges. Num cenário simples e direto, justaposto ao som de Luiz Gonzaga, a trama retrata a difícil realidade da falta d`água. Pode até parecer algo clichê, mas com humor tudo fica mais interessante, até mesmo um assunto complexo e chato como esse.
Ao abrir das cortinas, logo percebemos o bom tom com que é atraída a atenção dos queali quase lotaram o teatro. Em sotaque forçadamente puxado por alguns dos atores, somos impulsionados para algum dos lugarejos áridos do Nordeste. Mais um clichê!
Entre um ato e outro, o ritmo de Gonzagão toma conta do salão num som alto e em vibrato elevado de João Vagalume, interpretado pelo ator André Melo. Outro ponto forte do ator são suas deixas satíricas. Deixou evidente que não é preciso contar com um excepcional cenário para ser o destaque. Quem sabe o motivo do estar no palco, quem compreende o porquê daquele tom naquele instante, não deixa a peteca cair. É bem isto que Vagalume conseguiu, não deixou a peteca cair entre um erro de um e o despreparo de outro em cena.
As quase uma hora e meia de peça são bem espaçadas por diálogos curtos e muita dança e baião. De um modo mágico e cativante, embolado por um duelo quase no fim da trama, a imaginação ganha sotaque abrindo as margens para navegar nas aventuras do covarde João. Juntamente com essa figura central, percorrem o cenário outros seis personagens: Maria das Águas, que é sequestrada pelo Gigante e sua comparsa Brisa, um tipo de bruxa mística que adora enganar os distraídos, além do Calango que direciona João Vagalume ao alto do castelo onde está aprisionada a chuva (Mariazinha das Águas), numa ressalva ao grilo falante que dava consciência a Pinóquio.
Em composição à família retirante, Joaninha e Tio Gonzaga dividem as atenções retrucando nas deixas satíricas do ator André Melo.
Como havia dito lá no início, foi somente a estreia e com ela vem acompanhada o nervosismo, as falhas entre a entrada de uma música e a próxima fala, o branco tão temido por muitos. Os segundos de silêncio em alguns diálogos passaram despercebido por alguns, mas impregnou no ar um – “O que faço agora mesmo? ”. Mas, num todo, a história foi bem contada e bem apresentada.
Quanto vale contar uma história? Sinceramente dependerá de muitas pequenas relevâncias, mas pagaria sem ressalvas para ouvir outras tantas histórias contadas pelo trio que segurou todos os laços fechando ao fim um nó perfeito. João Vagalume, sua “irmãzinha” Joaninha e Calango se sobressaíram, ocuparam todo o espaço vazio, fizeram a diferença.
A peça – que vai rodar o Vale do Paraíba – vale a pena não só pelas risadas que tomam todo o teatro, mas pelo modo distraído com que é tratado o problema com que nós, paulistanos, recentemente vivenciamos. Também, pela recordação das letras vibrantes do Nordeste.
Ficha Técnica:
Texto: Cássio Borges e Matteus Almeida
Direção: Cássio Borges
Figurino: André Melo, Patricia Guia e Piedade Alexandre
Cenário: André Melo e Luiz Gonzaga
Músicas: ChicãoGuatura, Dani Lopes e Robson Oliveira
Elenco:
André Melo: João Vagalume
Helena Louise: Maria das Águas
Igor Martinez: Gigante
Cássio Borges: Calango
Patrícia Guia: Brisa
Alan Martins: Tio Gonzaga
Juliano Alexandre: Joaninha







