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A Praça Sensorial de Caraguatatuba

21/07/2015

Quem nunca sentou num banco de praça para contemplar uma paisagem, estreitar amizades ou simplesmente ler um jornal? No Brasil, as tradicionais praças são espaços públicos que propiciam convivência e entretenimento. Mais do que um ponto de encontro entre gerações, o paisagismo e o contato com a natureza ainda fazem com que as praças figurem no imaginário coletivo como o local de brincadeiras, descanso e boas conversas.
Dentre as diversas praças Brasil afora, as praças sensoriais são um novo modelo adotado para promover a inclusão de pessoas com disfunções advindas de alguma deficiência ou do envelhecimento. Potencializar o uso dos sentidos para partilhar atividades de maneira autônoma e independente é o grande objetivo desse investimento, levando em conta a construção de estruturas acessíveis.
 
Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo, ganhou sua praça sensorial em abril de 2013. O projeto inovador foi entregue pelo governo municipal e é mantido pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso. O espaço, que fica no bairro Cidade Jardim,  oferece paisagismo diferenciado com estímulos olfativos, visuais, auditivos, táteis, proprioceptivos e vestibulares, que promovem o lazer, a convivência, ações educativas e terapêuticas, garantindo a interação entre  crianças, adultos e idosos com ou sem deficiência.
 
A inovação do projeto está na proposta inclusiva, premiada no V Congresso Nacional de Diversidade e Inclusão, realizado em São José dos Campos, e recebeu também o III Prêmio Ações Inclusivas, destaque especial na categoria governamental, concedido pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo.
A praça sensorial não é um espaço que segrega a pessoa com deficiência aos seus pares, mas estimula o convívio com todos aqueles que frequentam o local. Na praça, os frequentadores poderão caminhar por uma trilha sensorial podal com 23 texturas variadas: casca de pinus, argila expandida, fibra de coco, sementes, bambus, pedras pequenas e grandes, piso com bolinhas de gude, entre outros. Caminhar sobre as texturas não é uma experiência interessante apenas para quem não enxerga. Equilibrar-se sobre as pedras, massagear os pés com as bolinhas de gude, descansá-los na fibra de coco ou sentir o quão quentes ficam os cascalhos quando expostos ao sol são só algumas das sensações experimentadas por quem caminha descalço pelo trajeto. O colorido e o visual da praça também são encantadores. Quem é cego ou percorre a trilha com os olhos vendados conta com um corrimão e placas em Braille para nomear as texturas.
 
Além disso, a praça sensorial conta com uma trilha manual com 17 cachepots (caixinhas de madeira), colocados na altura de 80 cm, permitindo às pessoas com cadeiras de rodas manusear as mesmas texturas da trilha percorrida com os pés descalços. O piso podotátil sinaliza o percurso e direciona a pessoa cega para cada canteiro para tocar nas plantas com cheiros, sabores e cores variados: jasmim, dama da noite, hortelã, erva cidreira, coentro, salsinha, citronela, manjericão e alecrim. Cada cachepot tem uma placa escrita com caracteres comuns e em Braille, para identificá-los com o nome científico e popular das plantas.
 
O espaço dispõe de duas pérgulas com sinos de vento, uma com maracujá e outra com trepadeira jade, canteiros com plantas, flores e árvores frutíferas diversificadas, para atrair espécies variadas de pássaros. Possui quadra poliesportiva, cinco equipamentos de ginástica para idosos ou outra faixa etária, três para cadeirantes e playground comum com um balanço adaptado para uso de uma criança cadeirante e uma sem deficiência. O mapa tátil apresenta a disposição do espaço em relevo, em que o frequentador cego poderá sentir os percursos e decidir sobre seu deslocamento, orientando-se com maior facilidade. Tudo estrategicamente elaborado por uma equipe interdisciplinar, formada por arquitetos, terapeutas ocupacionais e profissionais de educação física, para proporcionar convivência inclusiva e sensações diversas.
 
A Praça Sensorial Mitsuo Kashiura  faz parte do projeto “Caraguá Acessível: Construindo Espaços Inclusivos”, que engloba várias ações já implementadas (Praia Acessível, Playground Adaptado, Academia Inclusiva ao ar livre, Praça do Idoso, Rota Acessível). O agendamento para visitas guiadas, vivências individuais ou grupais, é feito junto aos profissionais da  Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e do Idoso de Caraguatatuba.
 
Serviço: Praça Sensorial “Mitsuo Kashiura”
Endereço: Av. José Amador Galvão, s/nº, bairro Cidade Jardim.
Tel. para agendamentos: (12) 3897 7043 ou 3897 7023.

COLUNISTAS / Luciane Molina

Luciane Molina é pedagoga, braillista e pessoa com deficiência visual. Possui pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) e em Tecnologia, Formação de Professores e Sociedade pela Unifei (Universidade Federal de Itajubá).  Sua trajetória profissional inclui trabalhos com educação inclusiva, ensino do sistema Braille, da tecnologia assistiva, do soroban  e demais recursos para pessoas cegas ou com baixa visão, além de atuar desde 2006 com formação de professores.  Foi vencedora do IV Prêmio Sentidos, em 2011, e do IV Ações Inclusivas, em 2014, ambos pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo (SEDPCD-SP). Também é palestrante e co-autora do livro Educação Digital: a tecnologia a favor da inclusão. Atualmente, integra a equipe técnica da Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso de Caraguatatuba (SEPEDI), com ações voltadas para a comunicação inclusiva, políticas públicas para pessoas com deficiência visual e Núcleo de Apoio às Deficiências Sensoriais.


braillu@uol.com.br

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