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COLUNISTAS / Perai, vem cá

Sobre a flor mais linda do meu jardim

02/10/2015

Por Gabriela de Aquino Costa
Talvez você não saiba, ou mesmo não entenda o que faz duas pessoas se apaixonarem. Ou melhor, o que faz duas pessoas se olharem e decidirem que querem passar a vida ao lado uma da outra, mesmo estando juntas há pouco tempo e mal sabendo o que as espera no futuro. Provavelmente você não sabe mesmo. Nem eu. Nem ninguém que eu conheça. Porque amor e paixão são duas coisas tão complexas que ninguém ainda foi capaz de decifrá-las. 
A paixão surge quando você menos espera. Escondida num sorriso, num abraço, numa troca de olhares. Como uma borboleta que voa de repente quando você se aproxima demais. Ela voa, e pousa bem no seu nariz, no lugar mais inusitado, e você se assusta e dá uns passos pra trás, mas depois que o susto passa você a olha e sorri, porque isso é a coisa mais maravilhosa que podia ter te acontecido naquele momento. E olha, é linda a borboleta!
Quando ela chegou à minha vida, não passava de um botão. Um botão de flor. Delicado e formoso, mas fechado e cheio de espinhos no seu caule. Curiosa, cultivei o botão. Não foi fácil. Ele quase morreu algumas vezes pela minha falta de cuidados, e em outras me machucou a mão com seus espinhos e me fez sangrar por vários dias. Nada disso me fez desistir de cuidá-lo. Em um surpreendente dia, lá estava a borboleta a pousar no meu nariz. Grande foi minha surpresa quando olhei aquele botão e o achei o mais belo botão que já havia visto na vida. Ele não merecia estar apenas numa jarra qualquer, posto de lado. Preparei pra ele o mais vistoso lugar que encontrei, e sutilmente o acomodei numa redoma de vidro. Era o meu precioso botão. 
Mas ele não gostou de estar ali. Botão que brota solto não se acostuma com mudança tão brusca. Tirei a redoma, voltei com ele para a jarra simples e o deixei no canto onde ele estava. Fiquei triste por não ter gostado do que lhe ofereci, mas deixei que permanecesse livre e seguisse o curso de sua natureza.
Quase sem que eu percebesse, um perfume doce foi tomando conta de tudo. Demorei a entender que aquele perfume fazia meu sangue esquentar, enchia meu coração de alegria e me fazia querer sorrir. Boba, me pegava olhando aquele botão por horas a fio, imaginando como seriam suas pétalas quando finalmente se abrissem. Dia após dia foi assim, e num belo fim de tarde, com o sol entrando pela janela, olhei para o canto e vi nas imensas sombras que se projetavam na parede, o meu botão. Lá estava ele. Não mais botão, uma flor, que desabrochou sem que eu nem visse, mas que estava ali, em todo seu esplendor. Linda, radiante, incrível.
Esse é o amor.
Sobre a autora:
Gabriela de Aquino Costa, descendente do povo Munduruku, é graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e membro fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena. Nascida entre pais escritores e professores, desenvolveu o gosto pela leitura e escrita desde muito nova. Recentemente, alguns de seus textos foram publicados, pela primeira vez, na Revista Leetra Indígena, da Universidade Federal de São Carlos.
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário

COLUNISTAS / Academia Jovem de Letras

Espaço reservado às produções dos acadêmicos da Academia Jovem de Letras de Lorena.  Membros da AJLL: Beatriz Neves, Camila Loricchio, Danilo Passos, Gabriela Costa, Gustavo Alves, Gustavo Diaz, Heron Santiago, Isnaldi Souza, Jéssica Carvalho, João Palhuca, Julia Pinheiro, Lelienne Ferreira, Lucca Ferri, Samira Tito, Thiago Oliveira, Vânia Alves e Wagner Ribeiro.


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