Por Gabriela de Aquino Costa
Talvez você não saiba, ou mesmo não entenda o que faz duas pessoas se apaixonarem. Ou melhor, o que faz duas pessoas se olharem e decidirem que querem passar a vida ao lado uma da outra, mesmo estando juntas há pouco tempo e mal sabendo o que as espera no futuro. Provavelmente você não sabe mesmo. Nem eu. Nem ninguém que eu conheça. Porque amor e paixão são duas coisas tão complexas que ninguém ainda foi capaz de decifrá-las.
A paixão surge quando você menos espera. Escondida num sorriso, num abraço, numa troca de olhares. Como uma borboleta que voa de repente quando você se aproxima demais. Ela voa, e pousa bem no seu nariz, no lugar mais inusitado, e você se assusta e dá uns passos pra trás, mas depois que o susto passa você a olha e sorri, porque isso é a coisa mais maravilhosa que podia ter te acontecido naquele momento. E olha, é linda a borboleta!
Quando ela chegou à minha vida, não passava de um botão. Um botão de flor. Delicado e formoso, mas fechado e cheio de espinhos no seu caule. Curiosa, cultivei o botão. Não foi fácil. Ele quase morreu algumas vezes pela minha falta de cuidados, e em outras me machucou a mão com seus espinhos e me fez sangrar por vários dias. Nada disso me fez desistir de cuidá-lo. Em um surpreendente dia, lá estava a borboleta a pousar no meu nariz. Grande foi minha surpresa quando olhei aquele botão e o achei o mais belo botão que já havia visto na vida. Ele não merecia estar apenas numa jarra qualquer, posto de lado. Preparei pra ele o mais vistoso lugar que encontrei, e sutilmente o acomodei numa redoma de vidro. Era o meu precioso botão.
Mas ele não gostou de estar ali. Botão que brota solto não se acostuma com mudança tão brusca. Tirei a redoma, voltei com ele para a jarra simples e o deixei no canto onde ele estava. Fiquei triste por não ter gostado do que lhe ofereci, mas deixei que permanecesse livre e seguisse o curso de sua natureza.
Quase sem que eu percebesse, um perfume doce foi tomando conta de tudo. Demorei a entender que aquele perfume fazia meu sangue esquentar, enchia meu coração de alegria e me fazia querer sorrir. Boba, me pegava olhando aquele botão por horas a fio, imaginando como seriam suas pétalas quando finalmente se abrissem. Dia após dia foi assim, e num belo fim de tarde, com o sol entrando pela janela, olhei para o canto e vi nas imensas sombras que se projetavam na parede, o meu botão. Lá estava ele. Não mais botão, uma flor, que desabrochou sem que eu nem visse, mas que estava ali, em todo seu esplendor. Linda, radiante, incrível.
Esse é o amor.
Sobre a autora:
Gabriela de Aquino Costa, descendente do povo Munduruku, é graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e membro fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena. Nascida entre pais escritores e professores, desenvolveu o gosto pela leitura e escrita desde muito nova. Recentemente, alguns de seus textos foram publicados, pela primeira vez, na Revista Leetra Indígena, da Universidade Federal de São Carlos.
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário