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COLUNISTAS / Falando sério

As polícias, a Segurança Pública e o nosso Brasil

08/10/2015

No rastro da homenagem do Portal de Notícias “O Lorenense”, ( javascript:nicTemp(); ), pela qual nós, policiais, agradecemos de coração, visto que nos dias atuais, este ato está cada vez mais difícil, deixo um texto da nobre colega delegada dra. Renata Lima de Andrade Cruppi, a qual manifesta sua trajetória profissional e traz o assunto “Ciclo Completo da Polícia”, sobre o qual traremos mais esclarecimentos em momento oportuno.
Boa leitura a todos. 
“Meu nome é Renata Lima de Andrade Cruppi, hoje sou Delegada de Polícia no Estado de São Paulo, exercendo minhas atividades como titular da Delegacia da Mulher na cidade de Diadema.
Como todos devem saber, não nasci Delegada. 
O que muitos não sabem é que não nasci em berço de ouro, não nasci em bairro nobre, e não nasci de pais estudados e com diplomas, mas nasci de um casal de metalúrgico e doméstica, ambos sem estudos, moradores de um cortiço na cidade de Santo André, dos quais tenho muito orgulho, face a sabedoria e história de vida de ambos.
Venho de uma realidade semelhante a de muitos brasileiros: moradora de periferia, comecei a trabalhar cedo, não porque fui obrigada, mas porque senti no meu coração de garota de 07 anos de idade que assim deveria fazer.
Aos 08 anos de idade decidi minha profissão após ser atingida por uma pedra na região da face, e ter meu caso sendo atendido numa Delegacia de Polícia.
A realidade daquele local (pessoas dando o sangue por outras que nunca viram), a atenção dispensada, fez-me ter a certeza da melhor escolha.
Estudei e fui buscar meios de chegar ao menos perto da profissão daquele senhor de gravata, que comandava outras pessoas que tinham os olhos brilhando ao poder fazer a diferença na vida de alguém.
Tive oportunidade de mudar de ideia, mas por que faria isso?
Antes de ingressar na carreira almejada acompanhei a trajetória de alguns amigos na Polícia Civil, na Polícia Militar, na Guarda Civil Municipal, bem como, acompanhei a morte precoce alguns, as lesões permanentes de outros e a tristeza da injustiça de outros, e tais situações continuaram a ser observadas, não cessando até nos dias de hoje.
Pedi a Deus que me colocasse dentro da Segurança Pública com força para fazer a diferença, ainda que eu fosse o beija-flor na mata, e assim Ele me fez.
Luto por minha instituição sem desfazer dos meus colegas de profissão, nem mesmo dos colegas que tanto lutam nas ruas, sem ao menos receber um bom dia dos cidadãos que estão sendo protegidos por eles.
Já entrei em favela para recuperar uma criança, protegendo-a da própria mãe, a qual estava totalmente drogada, já busquei proteger uma adolescente que fora vítima de atos libidinosos praticados pelo próprio pai, porém, eu estava gestante de 05 meses. 
Mesmo colocando a vida do meu filho e a minha em risco, acompanhei minha equipe de Policiais Civis, tendo o apoio de Guardas Civis Municipais que conheciam o caso. 
Nem obrigado recebi da vítima e de sua família, mas recebi a grata recompensa de ter evitado um mal maior.
Já deixei de comer lanches para dividir entre os presos que estavam sob minha responsabilidade, já prendemos pessoas de todas as classes sociais, já prometi prender uma quadrilha, e ter uma equipe para me ajudar a honrar o compromisso e ter êxito, já busquei ajudar em ocorrências de outros distritos, e com a ajuda de outros policiais, chegamos no resultado esperado, já pedi apoio de Policiais Militares e Guardas Civis Municipais, sem o menor pudor, e sem qualquer vergonha.
Essa sou eu, mas também é a realidade da família Polícia Civil.
Nosso sangue corre na direção da justiça e da presteza. Às vezes ele é desperdiçado nas calçadas da vida, nas sarjetas do desprezo, da ingratidão e da falta de auxílio e investimento.
Somos julgados pela sociedade e por pessoas que nunca estiveram no nosso lugar, que conhecem apenas a letra fria da lei e o ar condicionado, que nunca entraram em linha de confronto, nunca viram um amigo sangrando até a morte, famílias perdendo quem mais ama.
Outras pessoas defendem que todos devem investigar todos (famigerado ciclo completo), mas não sabem qual a realidade dos Policiais Militares nas ruas, da falta de equipamentos, da luta desigual com a marginalidade.
Quem tem de investigar segundo as normas legais são Policiais Civis, e patrulhamento ostensivo preventivo é a Polícia Militar, a qual faz com maestria seu trabalho, desenvolvendo seu labor da melhor forma e com poucos recursos.
Oras, o alto escalão da Polícia Militar luta para fazer o trabalho investigativo; olharam para a própria lapela, para os oficiais, e esqueceram de quem faz o trabalho pesado, sem estrutura, sem tempo de se atualizar, sem cuidar do psicológico; esqueceram daqueles que tem salário de fome, que trabalham pensando nas contas sem pagar, no futuro dos filhos, na falta de treinamento adequado e constante.
Oro a Deus por meus irmãos fardados, não muito pelo alto escalão, mas por aqueles que apresentam ocorrências, aos praças que terão mais um fardo, caso a ânsia dos superiores seja ouvida.
A população não precisa de brigas de ego, precisa de segurança, de ter seus direitos respeitados, de ter policiais treinados e menos cansados e estressados, porque só assim as chacinas, os imprevistos serão evitados com mais frequência, e teremos, assim, o caminhar para uma paz social.
Muitas vezes somos nós, Policiais Civis, que evitamos maiores problemas, ou punições, para nossos colegas fardados, que estão na linha de frente, e o emocional está totalmente comprometido na ocorrência.
Nós Policiais Civis temos de ser fortes, imparciais, ter conhecimento suficiente para decidir uma ocorrência ou a vida de uma pessoa em questão de poucos minutos; temos de preservar os direitos e garantias constitucionais dos cidadãos que nos são apresentados.
Enfim, com pouquíssimas palavras só tenho a dizer que a sociedade que defende teses impostas, sem ao menos saber sobre o assunto, que defende mudanças sem pensar nas consequências, que busca ter metodologias estrangeiras no Brasil sem perceber que nossa realidade é completamente diferente, tenham cuidado, pois, colhemos hoje o que plantamos no passado e, considerando os últimos acontecimentos nacionais, estamos semeando destruição para colhermos ervas daninha para nossos filhos e netos; estamos comprometendo as presentes e futuras gerações.
As escolhas erradas de hoje acarretarão dissabores no âmbito difuso e coletivo.
Lutemos por uma Polícia Civil moderna e treinada, por uma Polícia Militar com traços mais humanizados e menos austero (não apenas no âmbito social, mas dentro das corporações também), e por uma Guarda Civil Municipal com treinamento adequado. 
Lutemos para que a coletividade tenha maiores prerrogativas, deixando as fardas e egos fora do contexto.
Temos de lutar para que haja o seguimento correto: Polícia Militar exercendo seu ofício na função ostensiva e preventiva, Polícia Civil nas investigações e colheita de indícios de autoria e certeza da materialidade delitiva, Ministério Público com o papel de analisar e denunciar os possíveis autores dos ilícitos penais, Defensores Públicos e advogados na defesa de seus clientes, Magistratura na decisão final de todo o contraditório apresentado.
Todos na luta por um país melhor, moderno, com menos truculências e corrupção, com uma segurança pública bem remunerada e treinada, com menos invasão de atribuições.
Sociedade só tem a ganhar e festejar.”
Fonte:
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COLUNISTAS / João Barbosa

Lorenense, formado em Engenharia Química em 1995, pela então Faenquil, hoje EEL-USP (Escola de Engenharia de Lorena, da Universidade de São Paulo), é casado com Joice e possui dois filhos, João Vítor e Gabriel. Desde sua formação, atuou em grandes empresas do ramo alimentício; dentre elas, a Pullman Alimentos (Pão Pullman, como é conhecida), hoje Bimbo do Brasil.

Há alguns anos, buscou a realização de um sonho antigo e transformou-se em Investigador de Polícia da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Atualmente, atua na Divisão de Homicídios do  DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da cidade de São Paulo-SP.

E como aceitar desafios e ajudar ao próximo é sempre seu objetivo, com ele estaremos “Falando sério”.

“O sucesso nasce do querer. Sempre que o homem aplicar a determinação e a persistência para um objetivo, ele vencerá os obstáculos, e se não atingir o alvo, pelo menos se orgulhará de ter tentado”. (José de Alencar)


barbosajjs@globo.com

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