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Palmeiras imperiais, o agronegócio cafeeiro e a criação de um Jardim Botânico em Lorena

28/10/2015

Roseli Maria Martins D’Elboux, em seu magnífico artigo “Uma promenade nos trópicos: os barões do café sob as palmeiras-imperiais, entre o Rio de Janeiro e São Paulo”, discute a “transformação da paisagem urbana das cidades vale-paraibanas, a partir do estabelecimento de uma elite ligada à cultura do café nessa região e do surgimento de uma configuração paisagística específica, apoiada na utilização da palmeira-imperial (Roystonea oleracea). Seu recorte cronológico abrange o período entre 1808 e 1911, enquanto espacialmente seu foco direciona-se para o eixo Rio de Janeiro – São Paulo, com estudo mais aproximado do caso da cidade de Lorena, São Paulo, de modo a cobrir as transformações aí ocorridas desde a chegada do café até o esgotamento dessa cultura. Acompanhando as transformações urbanas do período, surgiram e consolidaram-se exemplos paisagísticos próprios da sociedade do café: ruas arborizadas com renques de palmeiras, a demonstrar a proximidade com a Corte, a sinalizar os novos ‘modos afrancesados’. Utilizaram-se tais configurações com o propósito de qualificar os logradouros públicos, a fim de equipará-los aos novos edifícios que substituíam aqueles da tradição colonial. Interessante notar que foi um lorenense que viabilizou a introdução da palmeira imperial nos espaços públicos paulistanos”.

Atualmente, as palmeiras imperiais em Lorena são resquícios de uma época cujos vestígios apontam para a decadência de um modelo paisagístico atual em desacordo com sua história.

O único plantio recente de 60 mudas foi em outubro de 2014, mas acabaram sendo um fato isolado, sem impacto no visual da cidade. Os primeiros locais que receberam as mudas foram a Avenida São José e o Centro Social Urbano (CSU).

Segundo Alice Canabrava, ilustre historiadora, o processo de expansão da cultura cafeeira na parte paulista do Vale do Paraíba em relação à sua porção fluminense e ao Oeste Paulista, deu-se de forma muito mais lenta. Essa lentidão pode ser atribuída à carência de capitais dos lavradores vale-paraibanos, cujos ganhos com a economia açucareira estavam aquém daqueles auferidos em outras regiões paulistas, notadamente na região de Piracicaba e Itu, pois a acumulação de capital oriundo da cultura canavieira foi um dos fatores que possibilitou aos fazendeiros paulistas o investimento no café (CANABRAVA, A.P. Esboço da história econômica de São Paulo, 1967).

Nada impede, contudo, que a reintrodução de uma moderna agricultura cafeeira, com o melhoramento das espécies e o uso de tecnologia não possa sugerir uma retomada da cultura de cafés finos, agora um agronegócio.

A cidade de Lorena, a exemplo do Rio de Janeiro, poderia também abrigar um Jardim Botânico, que seria referência não somente na região, mas também no âmbito nacional. Parcerias com empresas e a celebração de convênios de cooperação com cidades irmãs de outros países e transformaria a árida paisagem atual da cidade em um polo turístico que geraria empregos e incentivaria a implantação de um moderno complexo hoteleiro, hoje inexistente.

Claudia Gaspar S. Martins
Geógrafa
gaspar51@gmail.com

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