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COLUNISTAS / Perai, vem cá

Pesadelo

22/12/2015

Por Lelienne Ferreira Alves Pereira Calazans

A menina acordou mais cedo que o normal naquele dia. Estava ofegante e suando, se desvencilhou dos lençóis e foi tomar um banho frio. Em seguida direcionou-se a cozinha para o desjejum.

— Bom dia, Mel! Acordou cedo… – disse sua mãe, uma mulher alegre e bonita, ninguém acreditava na idade que tinha, devido ao seu carisma e jovialidade.

Ela preparava ovos e torradas para o marido que logo iria ao trabalho e para o filho mais velho, que iria para a escola, por causa das provas de recuperação. Os pais da garota haviam discutido bastante com o menino desde o começo do ano letivo devido às suas notas na escola e atitudes rebeldes. Por sorte, a filha mais nova não causava estes problemas, era dedicada aos estudos e, graças a isto, já estava aproveitando o início das férias, enquanto o irmão sofria com as idas a escola para tentar compensar o ano perdido.

— Bom dia, mãe. É… tive um pesadelo e não consegui dormir de novo.

— Pobrezinha, querida, com o que sonhou?

A menina congelou por um segundo até responder.
— Eu não consigo lembrar… – disse, finalmente, balançando a cabeça. – Deixa pra lá.

A mãe sorriu e continuou a preparar a comida enquanto a menina pegava a jarra de leite na geladeira. De repente, a jovem senhora soltou um gritinho baixo e agudo.

— O que houve, mãe? – perguntou a garota, assustada com a exclamação.

— Não foi nada, querida, só me distraí um pouco e me queimei. Nada demais…

Após o copo de leite e uma torrada, a filha se levantou e disse para a mãe que iria caminhar na beira da praia.
— Tome cuidado! – consentiu a mãe.
Era uma bela manhã de verão, o céu estava clareando e a brisa leve bagunçava seus cabelos cacheados. A garota caminhava pela praia com os chinelos na mão e os pés descalços, como de costume. Fincando os pés na areia macia, sentia a água os lavarem, o que era extremamente relaxante. O som das primeiras gaivotas acordando e alçando voo acima de sua cabeça a fazia sorrir. O cheiro do mar a enchia de alegria. E os raios de sol que começavam a despontar no horizonte a aqueciam.

Era uma praia pequena e pouco conhecida, graças a isso, suas águas e areia não estavam poluídas pelos milhares de banhistas que jogam lixo em qualquer lugar. Uma linda praia preservada.

“As primeiras horas de raios de sol sobre as ondas do mar são a melhor visão do mundo!”, pensava a garota. “Nada mais maravilhoso que começar o dia andando na praia”.
Após a caminhada pela orla, ela se dirigiu a sua casa. Que ficava a poucos quarteirões dali. Quando chegou à esquina da rua, se assustou com a multidão. Um leve arrepio percorreu a sua espinha. Quando sua vizinha a viu, se aproximou, desajeitadamente, com o rosto pálido e olhos cheios de lágrimas. Suas palavras eram incompreensíveis para a menina; a única expressão que a garota entendeu foi “acidente”.

Ela se sentiu tonta. De alguma forma, sabia de quem a vizinha falava.

Demorou a digerir a cena na sua frente. Entrando em desespero, a menina deixou seu último fio de sanidade se esvair e entrou no meio da multidão em pranto; já não enxergava nada, exceto o corpo inerte a sua frente.

— Mãe…

Ela correu para tocar o corpo já sem vida da mãe, mas quanto mais corria, mais distante parecia ficar.

— Mamãe!

— MÃE!!!
Em um piscar de olhos, veio uma escuridão. Ela estava no seu quarto ofegando e suando frio. “Um pesadelo… só um pesadelo”, pensou, tentando acalmar as batidas do coração que parecia estar saltando pela garganta.

Tentou relaxar tomando um banho frio. Depois de alguns minutos no banheiro, seu estômago roncou. Hora de comer algo.

— Bom dia, Mel! Acordou cedo…

—Bom dia, mãe. É… tive um pesadelo e não consegui dormir de novo.

— Pobrezinha, querida, com o que sonhou?

Aquela pergunta a assustou e seu coração bateu rápido novamente. “Com o que eu sonhei mesmo…?” tentou com todas as suas forças lembrar, mas não conseguiu e suspirou.

— Eu não consigo lembrar… deixa pra lá!

Ainda imersa em pensamentos, tentando se recordar do sonho enquanto pegava a jarra de leite na geladeira. Lembrava que tinha sido um pesadelo, já que acordara naquele estado agitado, mas não conseguia relembrar do que aconteceu no sonho em si. Foi quando ouviu sua mãe gritar.

— O que houve, mãe?!

— Não foi nada, querida, só me distraí um pouco e me queimei. Nada de mais… – Respondeu a bela senhora.

O coração da menina começou a bater rápido novamente. Uma estranha e incômoda sensação de déjà vu percorreu sua mente. Ela nem sentiu o gosto da comida. “Tem algo errado”, era o que seu cérebro gritava, mas não sabia o que era. Decidiu dar uma volta para esfriar a cabeça.

— Tome cuidado! – advertiu a mãe.

E lá se foi a menina em direção à praia que amava, sempre sua fuga de todos os tormentos.

Fez um esforço para jogar fora todas as sensações estranhas e inquietantes, afinal, o que de ruim poderia acontecer?

E, assim, chegou à praia.

Era uma bela manhã de verão…
Sobre a autora:

Lelienne Ferreira A. P. Calazans tem 18 anos, nasceu em Lorena, São Paulo. É técnica em Química, formada no Cotel, caloura no curso de Farmácia e possui uma sede insaciável de aprender coisas novas, o que a torna um ser muito curioso. Delicada e tímida são características que constantemente a descrevem, mas não se julga um livro pela capa. Ama ler, chocolate, viajar, sair com a família e com os amigos.

COLUNISTAS / Academia Jovem de Letras

Espaço reservado às produções dos acadêmicos da Academia Jovem de Letras de Lorena.  Membros da AJLL: Beatriz Neves, Camila Loricchio, Danilo Passos, Gabriela Costa, Gustavo Alves, Gustavo Diaz, Heron Santiago, Isnaldi Souza, Jéssica Carvalho, João Palhuca, Julia Pinheiro, Lelienne Ferreira, Lucca Ferri, Samira Tito, Thiago Oliveira, Vânia Alves e Wagner Ribeiro.


samira_007_@hotmail.com

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