Diz o provérbio português que “o poeta nasce feito”. Se isso realmente procede, cabe à escola despertar esses pequenos talentos. Será como cuidar de uma pálida sementinha que já se encontra no solo, mas precisa de sol, água, cuidados e muito amor.
Desde as séries iniciais, já é possível trabalhar artes e cultura de forma descomprometida, formando pequenos grupos teatrais para trabalhar rima. Não se faz necessário desenvolver conceitos. O trabalho se faz “brincando e aprendendo”.
Um exemplo simples e divertido: no pátio, na quadra de esporte, na sala ou mesmo no terreiro, como se denomina o espaço de terra da zona rural, pode-se fazer pequenos círculos onde serão colocadas as palavras, que podem ser nomes de estados, países ou cidade conhecidas pelos alunos: Portugal, Argentina, Brasil, Taubaté, Guaratinguetá, Lorena…
O professor personaliza os alunos com máscaras ou pinturas simbolizando animais: por exemplo, uma pulga. Inventa uma situação: vocês são pulguinhas sapecas que pretendem viajar. Vamos ver quem descobre o lugar certo para onde devem ir. Quem descobrir levanta a mão e se estiver correto, poderá viajar com tranquilidade, ocupando o lugar para onde irão. Vamos começar?
Uma pulguinha num jornal viajou para… Não levará muito tempo para despertar em um, o talento da rima. Uma pulguinha num jornal viajou para Portugal. Pronto, geralmente depois desse primeiro momento, a maioria desperta, descobrindo que as letras finais devem ser iguais. Ainda não se faz necessário desenvolver o conceito “rima”. Mas continuando: uma pulguinha foi a pé e chegou a …; uma pulguinha bem pequena viajou para …
Assim sucessivamente, continua a brincadeira até concluir de forma divertida: “uma pulguinha bem gentil levou todas para o Brasil”. A essa altura, todos os alunos já devem ter percebido a proposta e após essa empolgação, faz-se necessário muita leitura, trabalhos escritos, pelo menos um dia por semana, para que esse conceito fique claro e conciso.
A partir das séries subsequentes poderão trabalhar trovas. Após ler vários exemplos para os alunos, sugerir que eles criem as próprias. Nesse momento já serão descobertos os pequenos talentos, que surpreenderão pela criatividade e apreciação da atividade proposta.
Fica fácil a partir daí, quando as crianças já devem estar dominando a escrita, propor a leitura de poetas como Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Cora Coralina, que produzem poemas criativos e dirigidos ao mundo infantil. Os pequenos poetas irão perceber que é necessário existir a musicalidade, diferente da trova que contém rimas sistemáticas: o primeiro verso tem que rimar com o terceiro, o segundo com o quarto. Pode o professor nesse estágio desenvolver conceitos: trovas, rima, verso e estrofe. Chegou então o momento do jornal da classe, onde todos se revelarão cada qual com seu talento: os escritores dos diversos tipos de textos, os artistas na arte plástica, aquele da área exata que será responsável pela arrecadação de fundos para a publicação do jornal, o entrevistador, aqueles que se destacam na área cômica… Enfim, haverá lugar para todos.
Trabalho lindo, edificante, divertido, que envolve todos os alunos, resolvendo os problemas de disciplina e desinteresse, nesse mundo dominado pela tecnologia.
Até as escolinhas bem distantes, no alto da serra, nos confins dos sertões, poderão, com a criatividade de o professor realizar trabalhos como esses. Lançarão mão do giz, do carvão de pedra, da natureza que os rodeiam, da pequena lousa, folhas e lápis. Tudo mais surgirá magicamente com a criatividade e envolvimento de todos.
Mais tarde, com ao passar do tempo, já aposentada, essa professorinha da zona rural abrirá seu notebook e será surpreendida ao se deparar com o nome de ex-aluno, já adulto, quem sabe publicando um livro de poesias, ou participando de uma Antologia com muitos outros poetas renomados, ou quem sabe ainda publicando um romance.
A arte, o talento, estão inseridos em cada um, mas é necessário que sejam trabalhados, retirados do invólucro profundo onde, muitas vezes, permanecem adormecidos para sempre, se não forem explorados, o que é uma lástima. Os amantes da literatura precisam deixar registrada a passagem por esse mundo mágico, não substituindo os grandes imortais, mas com literatura moderna, do estilo dessa nova era.
Zilda Costa Toledo, professora aposentada e escritora. Autora de quatro livros publicados e participação em várias antologias. Membro efetivo da Allarte, ocupando a Cadeira de nº 24
A Allarte (Academia Lorenense de Letras e Artes), fundada no dia 24 de setembro de 2014, tem como objetivos: acolher em seu seio valores literários e artísticos, resgatar a história de nossa cidade, apoiar e desenvolver o culto das letras, das artes e do intelecto, valorizar escritores e artistas locais exaltando pessoas e datas significativas, promover a defesa da língua, dos valores morais e éticos que fundamentam a civilização ocidental e a formação brasileira.
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