É indiscutível que o sonho de qualquer brasileiro com deficiência seja frequentar uma escola, caminhar com segurança e autonomia pelas calçadas, consumir produtos e serviços como qualquer cidadão e sem quaisquer adjetivos que os caracterize como inclusivo ou acessível. Seria uma Utopia? Talvez. Mas prefiro acreditar que esta realidade possa ser alcançada se cada um fizer sua parte na conquista desses direitos fundamentais.
Assim como as críticas são necessárias para “abrir os olhos” daqueles que agem com desprezo às limitações das pessoas, em certos casos, até amparadas pelo oportunismo, percebo que disseminar a informação acerca da deficiência e das possibilidades tem sido grande aliado na quebra de certos mitos e preconceitos.
Quando a população passa a compreender a existência de determinado recurso, a postura quando estiver diante de uma pessoa com deficiência certamente será muito mais positiva a ponto de transformar uma realidade.
O Sistema Braille, por exemplo, que tem saído das páginas dos poucos livros existentes e ganhado lugar nas portas de bancos, em alguns rótulos de alimentos, cosméticos, embalagens de medicamentos, botões de elevadores, cardápios, panfletos, folhetos e outras sinalizações, começa a fazer parte da vida de milhares de brasileiros com ou sem deficiência. As escolas que se auto-rotulam “inclusivas”, na verdade, deixam de considerar a diversidade que há dentro dela. As calçadas com desníveis e buracos colocam em risco a integridade física de qualquer pedestre. Os profissionais, quando se capacitam em alguma área da deficiência mudam suas posturas e passam a fazer intervenções mais coerentes para cada caso, seja numa conversa com surdos por meio da LIBRAS, no auxílio à locomoção de um cego ou de um cadeirante, entre outros.
Dessa forma, os locais, produtos e serviços não deveriam receber quaisquer adjetivos que os caracterize como acessíveis ou inclusivos, já que essa definição só seria atribuída caso existissem locais, produto se serviços inacessíveis, condição que poderá ser combatida com a maior “arma” que o ser humano dispõe: a solidariedade e o respeito às diferenças. Para a pessoa com deficiência, a recusa por uma marca ou a preferência por um estabelecimento não deveria ter como critério principal a ausência ou a presença de acessibilidade. Ser acessível não é luxo, estar acessível é prioridade nos dias de hoje e daqui, rumo ao futuro.
Luciane Molina é pedagoga, braillista e pessoa com deficiência visual. Possui pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) e em Tecnologia, Formação de Professores e Sociedade pela Unifei (Universidade Federal de Itajubá). Sua trajetória profissional inclui trabalhos com educação inclusiva, ensino do sistema Braille, da tecnologia assistiva, do soroban e demais recursos para pessoas cegas ou com baixa visão, além de atuar desde 2006 com formação de professores. Foi vencedora do IV Prêmio Sentidos, em 2011, e do IV Ações Inclusivas, em 2014, ambos pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo (SEDPCD-SP). Também é palestrante e co-autora do livro Educação Digital: a tecnologia a favor da inclusão. Atualmente, integra a equipe técnica da Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso de Caraguatatuba (SEPEDI), com ações voltadas para a comunicação inclusiva, políticas públicas para pessoas com deficiência visual e Núcleo de Apoio às Deficiências Sensoriais.
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