Eles deram a base, o alicerce, as balizas que hoje resultam no modo brasileiro de fazer comédia. De meados do século XIX até o início do XX, época em que os espetáculos consagrados eram importados da Europa, quando o humor chegava com sotaques e imitar (ou traduzir) os autores do velho continente era quase uma obrigação para quem almejava o sucesso, Arthur Azevedo, França Junior e Martins Pena trouxeram o Brasil para a cena.
O modo brasileiro, as personagens nacionais, as piadas do nosso cotidiano, a prosódia caipira e a carioca, questões políticas, o panorama econômico e a fragilidade das instituições que passavam por grandes modificações – o regime muda: sai a monarquia, entra a república; a escravidão é abolida, etc. – tudo isso começa a aparecer nos palcos através do trabalho desses três grandes dramaturgos. Cada um com suas características, seu humor particular – com mais ou menos grau de sofisticação, acabamento e dramaticidade – mas sempre com a marca nacional estampada em histórias divertidas, pitorescas e cheias de brasilidade.
Nesse ano, Caio de Andrade, dramaturgo e diretor da Companhia de Jovens Atores do IST e da UniFatea Companhia de Teatro, traz à cena três textos icônicos desses importantes comediógrafos: AS DOUTORAS, de França Junior; O JUIZ DE PAZ NA ROÇA, de Martins Pena (ambas com o grupo de jovens atores do IST, que possuem entre 12 e 17 anos); e O MAMBEMBE, de Arthur Azevedo (com os universitários do UniFatea).
Os três textos foram adaptados por Caio de Andrade, também responsável pela direção dos espetáculos, e começam sua temporada já no final de novembro, se estendendo até o mês de março do próximo ano. A saber:
– AS DOUTORAS – Dias 25, 26 e 27 de novembro – Sempre às 20h.
– O JUIZ DE PAZ NA ROÇA – Dias 10 (dois horários – às 17h e 20h) e 11 de dezembro – às 20h.
– O MAMBEMBE – Março de 2017 (datas ainda não definidas).
AS DOUTORAS
De França Junior, com a adaptação de Caio de Andrade
Foi apresentada em 1889 e é considerada uma das melhores peças de França Junior. Comédia satírica e ao mesmo tempo política, aborda a emancipação da mulher e seus interesses profissionais. Uma sátira doméstica, onde a pregação “feminista” e “evolucionista” de certas senhoras é irremediavelmente castrada pela circunstância natural de “pertencerem ao sexo frágil”, a peça retrata com humor a figura dos tipos de França Junior, que estão em sincera busca por uma realização social. São elementos de uma pequena e média burguesia, que padecem dos vícios e virtudes próprios de uma classe em crise existencial.
Na atual montagem, o diretor e adaptador Caio de Andrade transportou a ação para o início da década de 1930, quando estava em plena ebulição um dos mais importantes movimentos em prol das questões feministas no Brasil, a luta pelo voto da mulher, oficializado na Constituição de 1934.
Elenco – Giovana Bongetta / Helena Oliveira / Isabelle Meirelles / Luciana Rosa / Malu Cavalca / Mariana Shigue / Matheus Henrique/ Pietra Katherina/ Rafael Gurgel e Rafael Pacheco.
O JUIZ DE PAZ NA ROÇA
De Martins Pena, com a adaptação de Caio de Andrade
O texto, escrito em 1833, quando Martins Pena tinha 18 anos, é considerado o inaugurador de nosso teatro. A trama descreve os costumes da zona rural – preocupação das primeiras obras do autor. Depois de infeliz passagem para a tragédia, o dramaturgo voltaria às comédias, mas ambientadas na corte. A trama fala da convivência atribulada e controvertida de uma comunidade caipira às voltas com as mazelas de um juiz arbitrário, corrupto e inábil que comanda a justiça local com interesses próprios e leis manipuláveis.
As cenas são curtas, tendo apenas a extensão necessária para o desenrolar dos fatos. Tudo é essencial, econômico, inclusive as rubricas (marcações da cena), que são precisas e significativas até no vestuário. Martins Pena manipula com eficiência e colorido os elementos dramáticos, reproduzindo com fidelidade a linguagem coloquial.
Elenco – Alexandra Dias / Camilla Zappa / Gabriela Cobianchi / Giovanna Hespaña / Giulia Banzatti / João Coura / João Gabriel Bogado / Karen Rodrigues / Luana Filippini /Luana Pereira / Lucas Costa / Maria Eduarda Brandão / Maria Julia Araujo / Mariana Garcia / Rafael Gurgel / Rafael Pacheco /Vinicius Félix / Vitória Fernanda e Yasmin Menezes.
Equipe técnica de ambos os espetáculos
Adaptação e Direção – Caio de Andrade / Cenário – Polyana Zappa / Figurino – Karine Andrade / Iluminação – Yago Santtos / Trilha Sonora – Tuti Soares / Preparação Corporal – Dieine Moraes / Programação Visual – André Marthins / Fotografia – Beatriz Villela / Assistente de Produção – Luiz Guilherme Vezzaro, Mariana Garcia e Ronei Euzebio / Bilheteira – Tatiane Reis / Produção Executiva – Beatriz França / Direção de Produção e Realização – Teatro Teresa D’Ávila / Direção Geral – Caio de Andrade
Sobre O MAMBEMBE – Mais informações sobre o terceiro espetáculo do Projeto Comediógrafos Pioneiros serão enviadas próximos da estreia, em março de 2017.
Dramaturgo, diretor e produtor teatral, Caio de Andrade nasceu em Lorena (SP), no dia 25 de novembro de 1960, e construiu sua carreira no Rio de Janeiro.
Formado em jornalismo, trabalhou na TV Manchete e SBT.
Ao longo de seus dez anos na televisão, fez inúmeros cursos e oficinas de teatro, chegando a dirigir alguns espetáculos. Nos palcos, como autor e diretor, vem construindo uma ponte entre o teatro e a história do Brasil. Foi o criador do Projeto História em Cena, no Centro Cultural Banco do Brasil – RJ, que levou milhares de estudantes ao teatro ao longo dos seus três anos de existência.
Participou de encontros com importantes companhias inglesas, na área de teatro-educação e de inúmeros festivais no Brasil e no exterior. É, hoje, um dos profissionais de teatro mais atuantes e premiados da sua geração.
Foto por: Rodolfo Magalhães
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