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Nelson Mandela

09/12/2016

O filósofo espanhol Ortega y Gasset disse que “O Homem é ele próprio e suas circunstâncias”. Que para além de suas características próprias, de sua personalidade, o que circunscreve sua trajetória, – desde o local do seu nascimento até o período histórico em que está inserido – tudo será determinante no resultado final de sua existência. Segundo Gasset, não se trata de destino, de fatalidade, mas de uma rede de condições, de conjunções, que pode ser maior do que o próprio homem e redirecionar, a cada momento, seus passos e seus planos.

Muitos sucumbem diante de circunstâncias desfavoráveis, de vicissitudes aparentemente intransponíveis, de conjunturas que assustam. Pessoas especiais, no entanto, trabalham com essas dificuldades para se reinventar, enfrentar corajosamente as previsões nefastas para onde suas parcas possibilidades apontam. Foi o caso de Nelson Mandela.

Depois de passar quase 30 anos na prisão, – ele foi preso em 1962 – Mandela ganhou sua liberdade em 1990, foi o vencedor do Prêmio Nobel da Paz, em 1993, e governou a África do Sul entre 1994 e 99.

Quando ele nasceu, em 1918, na África do Sul, já havia uma herança de desigualdade e discriminação. Mas foi em 1948 que a política de segregação atingiu seu auge. Várias regras jurídicas foram criadas para diferenciar os cidadãos de acordo com sua raça. Brancos e negros não podiam casar entre si, não andavam no mesmo transporte público e não era permitido morar no mesmo bairro. O apartheid durou até 1990, gerando graves conflitos sociais, uma vez que a maioria negra não se conformava com o domínio de uma minoria branca extremamente racista, violenta e separatista.

Ainda muito jovem, como estudante de direito, Mandela ganhou destaque na luta contra o racismo. Em 1942, juntamente com alguns amigos, criou a liga jovem do Congresso Nacional Africano. Comprometido a não usar da violência, acabou participando de levantes armados após o massacre que, em março de 1960, matou 69 pessoas e feriu outras 180 que participavam de um protesto contra o apartheid.

Em 1962, Mandela foi preso após informes da Cia à polícia sul-africana. Condenado a prisão perpétua, só seria libertado em 1990, após constantes manifestações feitas em vários países e pedidos vindos de inúmeros líderes mundiais – nesse ano Frederic Willem de Klerk assume a presidência da África do Sul e põe fim ao apartheid.

Desde 2010, a ONU comemora, no dia do seu nascimento (18 de julho) , o Dia internacional em homenagem ao herói da luta anti-apartheid. Cada cidadão do mundo é chamado a dedicar simbolicamente 67 minutos de seu tempo a serviço da coletividade, em memória aos 67 anos que Mandela dedicou à luta pela igualdade racial.

Madiba, como era carinhosamente conhecido entre seus compatriotas, morreu, aos 95 anos, no dia 5 de dezembro de 2013, cercado de todas as honras que se pode dedicar a um líder de sua importância.

As circunstâncias são outras, mas ainda vivemos e aceitamos calados, todos os dias, as guerras mais absurdas e as violências mais cruéis. Essa realidade, de difícil solução, coloca a cada um de nós o desafio de enfrentar questões como a dominação, a intolerância e a injustiça.

A maior homenagem que podemos fazer a Madiba é nos espelharmos em seu exemplo, rompendo com a miopia política e nos posicionando cotidianamente em prol dos princípios da justiça, solidariedade e convivência pacífica. Quem sabe, assim teremos aprendido com ele a fazer de nossas vidas um exemplo de determinação e força, de humildade e perseverança.

COLUNISTAS / Wellington de Oliveira

Wellington de Oliveira cursou mestrado e doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pós-doutorado em Psicologia da Educação pela mesma universidade. Atualmente, é Diretor Geral da Fatea (Faculdades Integradas Teresa D’Ávila); professor permanente no Programa de Estudos Pós-Graduados em Design, Inovação e Tecnologia da Fatea e Coordenador do Laped (Laboratório Interdisciplinar em Design, Tecnologia e Educação). Suas pesquisas contemplam uma interface entre as áreas do Emotional design, Design de interação e a Psicologia Sócio-histórica, com foco nos seguintes temas: Design, subjetividade e processos culturais; Emotional design e as perspectivas (trans) interdisciplinares nos processos de produção/criação. Pesquisador do Grupo Lace (Linguagem e Atividade em Contextos Escolares) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC/SP e no Grupo Atividade e Formação Docente na mesma universidade.

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