Há 125 anos, nesta cidade de Lorena, aqui perto da estação de ferro, no lugar deste clube de recreação, existiu uma grande fábrica urbana.
Nela, milhares de litros de melado e espuma manchavam as bordas de enormes tanques subterrâneos; a aguardente dormia em tonéis de carvalho; num depósito de alvenaria de tijolo e coberto de ferro e zinco somavam-se 140 pipas de álcool e as sacas de açúcar, empilhadas num depósito com vigamento de graúna e soalho de peroba, adocicavam o ar das tardes lorenenses.
Um terno de moendas “Brissonneau” de oito cilindros esmagava milhares de quilos de cana-de-açúcar por dia, movimentado por uma máquina a vapor de oitenta cavalos; mais adiante, funcionavam um colorizador de caldo, um aparelho de gás sulfuroso, defecadores, filtros, injetores, decantadores, clarificadores de espuma, turbinas, hélices, bombas de ar e a vapor, caldeiras, um tríplice efeito, aparelhos destilatórios e de retificação, uma bomba aspiradora do xarope, aparelhos de vácuo…
O estrídulo das engrenagens que arfavam sob o impulso do vapor, o espoucar dos motores, as hastes de cana estalando nas moendas, abafavam as vozes dos operários.
E o barulho dessas máquinas, na época das colheitas, avançava noite adentro, sob a iluminação trêmula e indecisa de setenta e duas lâmpadas marca Edson e duas de arco voltaico.
Há 125 anos, neste mesmo lugar onde um dia se ergueu a Subsistência do Exército e, depois, o Clube Comercial, existiu o Engenho Central de Lorena. Este pequeno portão azul que se vê na entrada do Clube é hoje a única e muda testemunha das suas edificações. Nele, está inscrita uma data: 1884.