(A todos os guerreiros na luta contra o câncer, em especial à Silvana de Paula)
A descoberta de um tumor maligno na virada do ano, significa uma luta contínua e uma mudança no cotidiano.
Conversas, diálogo interior com o Eterno e repensar a vida.
É viver um estigma duplamente silencioso:
conhecer a realidade nos subsolos dos hospitais,
conhecer pacientes de todo o país entregues à quimioterapia, radioterapia e a outros remédios que a ciência e a fé oferecem.
As mulheres, invariavelmente de lenço na cabeça por causa dos cabelos perdidos… sem mais importância;
os homens, indiferentes, olhares indecisos no torpor da impotência.
Há uma zona de conflito na espera silenciosa da morte que espreita.
Na solidão do pensamento, dias confusos e tensos à espera da cirurgia, ou a possibilidade de ficar cega, ou com o lado esquerdo do corpo paralisado, ou perder a memória, único capital.
Entre as opções oferecidas, preferir fugir da sobrevida de pijamas, descendo sem rumo a rampa, com lágrimas, à espera de um milagre e os movimentos preservados.
E começar o combate, dedilhando o rosário de reações adversas, num remédio experimental com o veneno de um escorpião azul.
Os amigos, as gotas azuis diárias e Deus são os caminhos da cura.







