Por Jéssica Terezinha do Carmo Carvalho
Não precisei de muito para retirar daquele momento o que mais de belo ele poderia conceder …
Era uma cena muito simples, rotineira talvez. Mas foi uma das mais belas que presenciei…
Um homem bem afeiçoado, cumprindo seus deveres de cidadão, entregara um presente a uma criança desconhecida de seu mundo farto.
A pequenina, apressada, pegou aquele embrulho e abriu sem muitos cuidados… Seus olhos brilharam ao retirar da sacola uma caixa, quase do seu tamanho, e avistar o brinquedo mais belo que já tivera a oportunidade de possuir durante a sua pouca estadia terrena.
Fiquei imaginando a docilidade de ser feliz com tão pouco. Por agraciar-se com o que para tantos, seria apenas mais um objeto.
E de repente, aquela criança soltou o embrulho, e, no impulso, agarrou-se no pescoço daquele homem, e deu-lhe o abraço mais apertado que possivelmente ele já tivera na vida.
E sem forças para tentar se proteger, desesperado, o homem a abraçou, de modo que aquele ser tão pequenino ficasse escondido debaixo de seus braços.
Por um momento, desejei que aquela cena perdurasse eternamente. E com o pensamento distante, assustei-me com um pulo repentino, que me fez ficar preocupada.
A criança, sem asas, voou até seu brinquedo e, olhando-o fixamente, retirou-o da caixa; acariciava e sorria.
O homem fitou sobre ela seu olhar e tentava adivinhar qual seria seu próximo ato.
E aquele, que no gesto premeditado entregara o seu presente, com os olhos cheios de lágrimas, após grandiosos minutos estático, movimentou-se para ajudar a criança, que havia se dirigido em direção à caixa, e com um esforço, queria nela entrar.
E, sem saber como agir, o homem resolveu sentar e brincar, velando para que tudo ocorresse bem naquela caixa.
Fiquei imaginando a docilidade de ser feliz com tão pouco. De contemplar aquilo que para tantos sábios, seria apenas mais um objeto.
Impressionante a capacidade de uma criança de quebrar corações endurecidos pelas dificuldades vivenciadas. Foram furtadas daquele indivíduo todas as armas e pedras.
E foi interessante perceber, naquele instante, quão mecanizados somos, esperando determinadas atitudes; e esquecemos da capacidade humana de agir com o coração.
Às vezes, não precisamos daquilo que está dentro do embrulho. Precisamos do próprio embrulho. Precisamos do mais simples que a vida possa nos dar.
Sobre a autora
É acadêmica em Direito, cheia de sonhos e que se aventura pelo mundo sublime das palavras. “Aquilo que está na mente e no coração torna-se eterno quando é cuidadosamente exposto em uma folha de papel”.
jessyca-carvalho@hotmail.com
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