Diante de tanta violência nos dias atuais, de tantas vítimas “pais de família” perdidas por essa violência, de tantos policiais perdendo suas vidas, tem circulado nas redes sociais um texto referente à carta de uma mãe enviada para outra mãe (a que escreveu perdeu seu filho assassinado e a que recebe é a mãe do autor do crime). Essa carta foi escrita em 2011, mas com o atual momento em que estamos vivendo, acho pertinente a publicação.
Muito dos valores transmitidos de geração para geração têm se perdido com o passar do tempo e, pior, as pessoas têm aceitado o errado como certo e estão se omitindo nessa percepção, não oferecendo reação diante de tais fatos.
As pessoas não mais fazem avaliação com relação ao conjunto de valores e princípios através do qual deveremos decidir entre o certo ou o errado. “Eu quero, mas eu posso?” Ou: “eu devo? Estou respeitando o direito do outro?”
Diariamente, temos visto pais e mães que espancam e matam filhos, dispensam bebês no lixo e, mais recentemente, chegam ao absurdo de oferecê-los ao mundo do sexo. Assistimos também filhos matando os pais por motivos banais, fazendo-os de refém, pressionando-os física e psicologicamente. Nas escolas, alunos agredindo alunos, alunos agredindo professores e professores agredindo alunos. Temos o ambiente parceiro do lar na educação transformado em um verdadeiro campo de guerra.
Foi-se o tempo no qual a escola e o lar eram parceiros na difícil tarefa de educar, quando os filhos respeitavam seus pais e professores.
Diante disso, a inversão de valores tem caminhado muito além do ambiente familiar e da escola. Já está impregnada na sociedade e levando nosso país, a passos largos, para o abismo, porque as pessoas estão tomando o errado como certo.
Os mesmos valores invertidos e destrutivos são percebidos na atitude da sociedade quando se depara com um problema em uma simples linha de trem, um ônibus, na entrada de uma porta giratória de um banco, etc..
Vamos esperar mais quanto tempo para a recuperação de nossa sociedade, de nossa cidade, de nosso país?
“Tente mover o mundo; o primeiro passo será mover a si mesmo”. (Platão)
A seguir, a carta. Muito mais que uma simples leitura, uma reflexão.
Carta de uma mãe para outra em SP, após noticiário na TV*
“De mãe para mãe:
Direitos Humanos para todos.
Vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da Febem em São Paulo para outra Febem no interior do estado.
Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência.
Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam com o apoio de Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, ONGs, entre outros.
Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto.
Quero com ele fazer coro.
Enorme é a distância que me separa do meu filho.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo.
Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família.
Felizmente, conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.
Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma vídeo locadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.
No próximo domingo, quando estiver você abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o túmulo do meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo…
Ah! Ia me esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranquila, viu que eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá na última rebelião da Febem.
No cemitério, nem na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante destas ´Entidades´ que tanto lhe confortam, para me dar uma palavra de conforto, e talvez me indicar os ´meus direitos´!
Direitos Humanos são para Humanos Direitos?”