
Há algo passado que meus olhos ainda contemplam… os anos dourados de uma geração presente para sempre. Está tudo lá, intocado, nos mínimos detalhes. Nada mudou e nem mudará.
Vejo minha cidade amada com olhos de outrora, espiando por uma janela da máquina do tempo, o cotidiano da cidade que ficou para trás.
Um não sei o quê de saudade me invade… dias com cheiro de vida bem vivida.
Lorena brilhando ao balanço das carruagens e dos roncos dos raros carros possantes da época. O leite na porta e o pão estalando quentinho debaixo do braço.
Chaminés fumegando, o apito pontual da Maria Fumaça, o aroma da fábrica de açúcar.
Eu, olhando pela janela do bonde, meus pais que acenam com lenços brancos, enquanto o cobrador picota o bilhete.
Vou trazendo nas lembranças de menina, numa piscadela de tempo, o odor inconfundível de um café coado no pano. Seu aroma invade meu ser e, fechando os olhos, quase posso tocar o tempo com as mãos.
Ao som da rádio, SAL – Serviços de alto falantes de Lorena, Stipp Jr. nos embala no passeio pelo jardim da Praça enfeitada de canteiros e flores, perfume no ar… as meninas, em sentido contrário dos meninos, como os ponteiros de um relógio, à espera da paquera passar na volta.
O sabiá canta alto nas palmeiras, nos ipês. Esta é minha terra, este é o meu lugar!
De repente, minha neta chama de volta ao presente. Um chamado que desponta o futuro.
– Vovó, me conta uma história, a história de sua gente, dessas fotos espalhadas pela cama.
Eu começo a contar:
– É a nossa gente, vinda de toda parte, que construiu aqui um sonho.







