Este site não poderia estrear sem homenagearmos aquela que foi, é e sempre será, em nossos corações, a maior lorenense de nossas vidas. Nascida em 17 de agosto de 1958, em Jacarezinho, no Paraná, Carolina Staut veio para Lorena ainda criança.
Foi esta a cidade escolhida por ela para ser sua, de coração. Foi aqui que ela cresceu, estudou, formou-se e construiu sua família. Engenheira química por formação, mas empresária e jornalista por vocação, nossa mãe contribuiu como poucos para a construção da história de Lorena, à frente do Jornal Guaypacaré, que encerrou sua jornada em abril de 2014, após 39 anos de credibilidade na cidade. Na mesma ocasião em que o Guaypacaré encerrou sua história, também tivemos que nos despedir para sempre desta grande mulher, a mãe mais amorosa, doce, generosa. Foi no dia 24 de abril a sua partida, aos 55 anos de vida.
A ela, a maior guerreira que já conhecemos nesta vida, devemos tudo o que somos e sabemos hoje. Por isso, na data em que completam-se 6 meses de sua partida deste mundo, apresentamos a você “O Lorenense”.
Todas as colunas deste site trazem um primeiro tema especial: Carolina Staut. E para abrir as homenagens, segue um texto especial, escrito há alguns meses, por uma grande amiga:
Por Darlene Ultramari
Fui instada a falar um pouquinho da Carolina e então pensei em quantas coisas boas eu poderia citar. Mas preferi falar neste momento de nosso último encontro; não só porque foi o último, mas porque foi, decididamente, o mais significativo pra mim.
Na noite de sexta-feira, 11 de abril de 2014, depois de meu expediente de trabalho, cheguei em sua casa para visitá-la, estando ela em seu quarto, sentada sobre a sua cama, recebendo uma outra visita e com a televisão ligada. Deparei-me com uma mulher sem cabelo, o que nunca tinha visto, apesar de saber que não havia sido a primeira vez em que ela ficava deste jeito (em razão do tratamento de saúde a que era submetida).
Ela trajava um vestido vermelho, de tom vivo, e ainda estava cheia de anéis e pulseiras, com uma expressão serena, linda e feliz (mesmo não conseguindo movimentar o tronco sozinha e mal conseguindo falar). Por incrível que pareça, ela exalava vida, muita vida.
Do jeito em que entrei no quarto, ela me direcionou um sorriso largo nos lábios, abrindo os dois braços em minha direção, convidando-me para um doce abraço. De todos os que tive a oportunidade de dar, este também foi o melhor, pois me transmitiu uma energia indizível, de tão boa. Totalmente lúcida e expressando-se muito bem (apesar de quase afônica), pudemos trocar muitas figurinhas.
Rimos de montão e ainda conversamos tanto sobre nossa vida pessoal (saúde, maternidade, etc.) quanto sobre nossa vida profissional (inclusive, ela tinha sido levada à cidade de Guaratinguetá na tarde daquele dia, por um dos filhos, onde pretendia buscar um aparelho de HD, para salvar todo o arquivo de seu computador e, assim, continuar administrando a sua empresa – Jornal Guaypacaré – da cidade para onde iria se dirigir no dia seguinte, no estado do Espírito Santo, onde fica a casa de uma irmã).
Neste segundo momento, também me impressionei, pois pensava como uma mulher naquele estado tão debilitado conseguia encontrar tanta força de vontade para continuar gerindo uma empresa e ainda à distância, como seria o caso. Na sequência, comentei da vontade de comer um doce e ela me convenceu a dirigir-me até um buffet da cidade, naquele exato momento, pois ela achava que se eu estava com vontade e se podia comer, não tinha por que não resolver esta questão de uma vez (risos). Não bastasse, ainda pediu que lhe trouxesse um alimento que estava a fim de comer, no que foi atendida.
Retornando, providenciei um prato para colocar o alimento que ela tinha solicitado, quando então tive o prazer de assisti-la comendo aquilo com uma “boca muito boa”, talvez a melhor que já tenha presenciado. Então fiquei intrigada sobre como ela estava conseguindo deglutir tão bem aquele alimento, se estava passando praticamente à base de sopa batida no liquidificador (que era carinhosamente preparada por sua filha, todos os dias, no almoço e no jantar). Ao final, despedi-me, desejando-lhe uma ótima viagem (pois, conforme dito, ela iria viajar no dia seguinte uma distância muito grande, rumo à casa de uma irmã que é médica, a fim de ficar sob os seus cuidados paliativos na fase última de sua vida).
De novo, fiquei impressionada dela haver se despedido com um sorriso nos olhos e nos lábios, como quem fosse fazer uma linda viagem de férias, quando, em verdade, creio que ela certamente já estava ciente e consciente de que possivelmente não mais voltaria com vida para esta cidade. E então fui embora para a minha casa, pensando muito sobre aquele encontro e tudo o que ele tinha me acrescentado.
Primeiramente, pensei que naquele exato momento eu estava viva, cheia de saúde, podendo comer tudo o que eu tinha vontade e inclusive tendo repleta autonomia para me dirigir para onde quer que eu desejasse, pois podia me locomover sozinha, sem depender de quem quer que fosse para tanto.
Senti uma vontade tremenda de viver. De viver bem e de ser feliz. De realizar todos os meus desejos, dos menores aos mais complexos, pois sentia que tinha plenas condições para isto. Também me comprometi a não ficar de mau humor (simplesmente achei que não tinha mais este direito) ou reclamando da vida por tão pouco (pois, afinal, eu tinha muito, ou quase tudo – saúde e paz).
Acima de tudo, concluí que estar viva já era uma grande razão para comemorar. Que eu deveria ter sorrido e amado mais durante os anos que vivi. Que eu poderia ter me doado muito mais às pessoas que precisaram de mim. Que eu deveria ajoelhar-me no chão todos os dias e, de mãos estendidas para o alto, agradecer ao Bom Deus pelo dom da vida e pela existência de todos os que eu amo, bem como pelo quanto sou amada por várias pessoas de meu convívio.
Concluí, ainda, que a sede de justiça era uma virtude do ser humano. Que o respeito ao outro era uma qualidade moral indispensável. Que o amor era a receita “sine qua non” para que todas as nossas ações fossem realizadas com sucesso. E, finalmente, que cada momento de nossas vidas era indubitavelmente único e que jamais poderíamos inverter a rotação natural do ponteiro do relógio da vida, que seguia inexoravelmente, quer fosse de nossa vontade, quer não. Que doar-se ao outro era fazer para nós mesmos. Que não dava para ser feliz o tempo todo. Que chorar fazia parte do pacote e que as adversidades eram a expressão da própria vida.
E, ao final, acho que cheguei a uma conclusão plausível acerca de toda a vitalidade que a Carolina expressou e demonstrou até os seus últimos momentos de vida, apesar de todo o sofrimento que suportava. É que, como dizia o poeta Vinícius de Morais, “a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu”.
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