Fazer um texto em homenagem à jornalista Carolina Staut não é tarefa simples. Minha convivência com ela foi pouca, mas intensa. Especialmente ao compartilharmos as agruras passadas no tratamento contra o câncer, o dela e o de minha filha e de minha esposa.
O último e-mail que recebi da Carolina era uma resposta à cobrança do texto do Bosco para integrar a V Coletânea da Academia de Letras: “Caro Adilson. O Bosco me disse sobre o artigo… Vou tentar ajudá-lo… É possível passar para mim as orientações… assunto, tamanho de letra, tamanho do artigo… isto ele não me repassou nada… Agradeço se puder me orientar, para que possa cobrar e ajudar no que possível… Grande abraço. Carolina”. Isso foi em 19/2/2014. Mesmo com o estado crítico do tratamento a que se submetia, não descuidou de ajudar seu companheiro de mais de quatro décadas.
Mais de cinco atrás começou nossa troca de e-mails. Em 24/7/2009, criei coragem e enviei: “Gostaria de saber se há algum interesse e possibilidade de ser publicada no Jornal Guaypacaré uma coluna sobre Ciência, Tecnologia e Meio-Ambiente. Estou disposto a tal mister, uma vez que sou professor da EEL-USP e presidente do Conselho Municipal de Meio-Ambiente. Acredito que faz falta uma coluna com essa abordagem e seria importante para o Jornal”.
Gentilmente, assim ela respondeu: “Caro Adilson. Podemos conversar. Há interesse. Se possível, poderia me encaminhar algum artigo seu? Colocamos sempre, aos nossos colunistas, que damos preferência para matérias voltadas a fatos de Lorena e não às genéricas que atingem a todos nós, mas que são mídia internacional. Exemplo. No Guaypacaré […] o rio Taboão é mais importante que o rio Amazonas. As questões da EEL-USP são mais importantes que as discussões que acontecem na USP São Carlos, etc. E de preferência, colunas de no máximo com uma lauda […]. Estamos à disposição e creio que você pode realmente nos ajudar a lutar pelas questões ambientais. Veja que sempre lutamos por arborizações, contra corte de árvores […]. Aguardo retorno. E boa semana. Carolina”.
Passei a enviar a coluna toda semana, ao longo de mais de quatro anos. Mais de 200 textos. Todos publicados.
O primeiro da série de e-mails mais recentes foi no dia seguinte ao do início do tratamento de minha filha: “Caro Adilson. Como está? Soube das notícias de problemas de saúde com sua esposa e filha, mas não sei exatamente se corresponde à realidade. De qualquer forma, há algo que possamos fazer? Atenciosamente. Carolina Staut”. Era a minha amiga, quase virtual, preocupada.
Trocamos mensagens de texto, recados, outros e-mails. Mas houve um mais longo, o do dia 2 de outubro de 2012, que não transcreverei aqui por não ser apropriado, pois ela mesma pediu para que ficasse entre nós boa parte daquela conversa. Apenas compartilho estes trechos: “Caro Adilson. Como estão as coisas? Voltei esta madrugada de Barretos (cheguei às 6h30 desta manhã), onde estou fazendo meu tratamento. Iniciei o 7º de 8 ciclos (de 21 dias cada) de um novo tratamento que estou fazendo… Imagino que você, como cientista, tenha muitos e bons contatos neste momento difícil… mas se eu puder ajudar em algo, a gente pode tentar… porque posso tentar agitar também meus contatos, se você precisar… Acredite: nesta luta, o importante é não desistir jamais, a despeito de todo o quadro que possa se desenhar a cada momento… Tudo pode mudar de uma hora para outra. […] À sua mulher e filha, meu afetuoso carinho… transmita a elas, se possível… E se elas quiserem me contactar também e eu puder ajudá-las (como disse, cada pessoa reage de uma forma), estou à disposição delas. […] Carolina”.
As inúmeras reticências em seus textos eram um reflexo das incertezas pelas quais ela passava. Nada mais justo que manter e resgatar a memória de alguém tão presente. Longe de ser um texto que normalmente escrevo, fica esta singela contribuição, a transcrição de e-mails trocados, a vivência desses momentos, ora tristes, ora esperançosos. A força da Carolina somente será resgatada com a força do espaço jornalístico que agora se constrói. Estaremos juntos.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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