Lembro-me da Leila (também conhecida como Layla) desde pequena, ali, na loja dos seus pais, os sírio-libaneses “Seu” Miguel e Dona Jamila. Era a mais nova das quatro irmãs – Nur, Adélia, Maria Aparecida e Leila. Muitas vezes estava ali, brincando, pequenina, sob os olhares atentos e felizes de seus pais.
Seu Miguel era alegre, simpático, tratava a todos muito bem. Dona Jamila já era muito preocupada e nos olhava atenta – a nós, crianças e colegas na escola da Nur e da Adélia. A Cida era ainda bem nova – Dona Jamila tinha medo que chamássemos as meninas para jogar bola na rua ali na frente ou no jardinzinho do Conde, onde hoje fica o prédio dos Correios.
Na rua Dr. Rodrigues, a principal de ontem e de hoje, passavam naquele tempo poucos carros. Só quem tinha carro em Lorena eram os fazendeiros ricos, os mineiros, que trocaram o café pelo leite.
Leila era desde aquele tempo uma menina comunicativa, que gostava das pessoas, de chegar perto, perguntar o nome e conversar.
Na escola, no primário do Conde, eu era colega da Adélia e no ginásio da Escola Patrocínio São José era colega e amiga da Nur, que antes de entrar no ginásio todos conheciam como Leonor.
Dona Jamila sempre estava na loja, vigiando a pequena Leila, como também para atender aos fregueses e observar quem passava por sua loja e fosse às lojas da frente, dos comerciantes também sírio-libaneses “Seu” Salomão e Dona Nena e “Seu” David e Dona Rosa, comprar tecidos…
Este era o cenário daquele tempo, final da década de 30, década de 40 e pós-guerra em 1945.
Assim eram os sírio-libaneses, comerciantes vindos do Oriente Médio, onde já comerciavam há centenas de anos. Gente trabalhadeira e honesta, que ama e engrandece o Brasil até hoje, principalmente no comércio e na medicina, como por exemplo o grande médico recém-falecido em São Paulo, dr. Adib Jatene, mestre de muitos médicos em cirurgia, hoje atuantes, lembrando os que já trabalharam e os que trabalham em nossa cidade e região.
O tempo passou. Leila estudou, formou-se professora, deu aulas em Lorena e em São Paulo. Namorou e casou-se com Roberto Beck Pinto, de raízes valeparaibanas, com quem teve os filhos: Martha, Márcia e Miguel. Márcia e Miguel, por sua vez, lhe deram os netos: Marcelly, as gêmeas Layla e Laísa e Matheus, filhos da Márcia, e Rafaelle e Rodrigo, filhos do Miguel.
Martha não lhe deu netos, porém deu-lhe e continua dando tudo o que uma mãe já octogenária, ou quase, precisa, principalmente carinho, atenção e amor. Os netos, como o Matheus, estão sempre ao lado da avó, dando e recebendo o carinho, que é o que o ser humano mais precisa desde o seu início até a idade mais avançada.
Leila ficou viúva em 1982 e continua firme e segura no centro da família. Além dos filhos e dos netos, recebe também a atenção dos sobrinhos, filhos da Cida (sua irmã saudosa e também muito querida de todos): o médico dr. Charles, a Beatriz, o Toninho, advogado e que foi vereador muito atuante em Lorena, e o Joaquim, que cuida da tradicional loja de calçados, ocupando o lugar do pai, o também Joaquim, muito estimado, e suas famílias.
A família Samahá faz parte dos troncos guerreiros, trabalhadores, que orgulham nossa cidade e a fizeram crescer e prosperar.
Que a Leila, no seio da sua família, com sua simpatia, sua amizade, continue em Lorena por mais de duas dezenas de anos, pelo menos; amém! E que continue sentada no banco em frente à sua casa, nas tardes lorenenses, unindo o passado ao presente, conservando e resguardando a alma de sua cidade, ali, na principal, onde ela nasceu, cresceu e graças a Deus, vive!