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COLUNISTAS / Mundurukando

Sociedade educadora. O que é isso?

19/02/2015

A presidenta Dilma Rousseff, em seu discurso de posse, disse que sua prioridade será a educação. Cunhou, para isso, uma frase de efeito que será o leitmotiv de sua gestão para os próximos quatro anos: Brasil, Pátria educadora.
Achei que ela começou muito bem colocando a educação como prioridade de seu governo. Porém, o que significa uma sociedade educadora? Podemos pensar na real possibilidade de termos um projeto de sociedade pautada pela educação das bases?
Estas perguntas eu me fiz especialmente por ser um educador que veio de uma outra estrutura social e onde, ali, tudo está em função da educação das crianças e jovens. Não sei se meus poucos leitores sabem de onde vem essa ideia um tanto utópica de construir uma nação a partir da educação. É isso que proponho conversar neste primeiro artigo que escrevo em 2015.
Desde a década de 1990 que a expressão cidade educadora faz parte de uma série de reflexões que pensadores da educação se propuseram. Não falo de Brasil, mas de mundo. Há décadas que a Unesco, órgão das Nações Unidas para Educação, juntou pensadores e lhes propôs como desafio refletir sobre a possibilidade de ampliar a compreensão de educação para além dos muros das escolas, lugar onde se transmite conhecimentos milenares, mas que muito pouco educa.
Na compreensão da Unesco, educação é mais que um processo de ensino-aprendizagem, mas um compromisso social com o bem estar das pessoas. Num lugar onde a civilidade é necessária, todos – eu disse TODOS – os cidadãos (moradores das cidades) têm que se comprometer com os espaços sociais e, assim, participar da vida da pólis, da cidade. 
Como isso deve funcionar na prática? O poder público deve exercer seu papel essencial de oferecer meios para que as pessoas se comprometam com o lugar onde moram procurando humanizar os equipamentos utilizados por elas. Ou seja, deve transformar a praça em um lugar de convivência, oferecendo ações que permitam seus frequentadores sentirem-se parte daquele local. Ou dizendo de outra maneira: a praça é um equipamento que educa. Basta para isso criar, por exemplo, placas que identifiquem as árvores que a compõem; transmitir músicas que facilitem a educação musical dos frequentadores; organizar eventos de troca de livros ou outros elementos culturais. Tudo isso amplia o olhar dos transeuntes e lhes deixará mais atentos para sua cidadania.
Aqui apareceu outra palavra muito usada, mas pouco entendida. Quando recitamos esta palavra normalmente, ela vem como adjetivo de direitos. Todos somos cidadãos e todos temos direitos. É assim que a maioria das pessoas pensa. Embora não esteja errado, não contempla toda a dimensão da palavra. Ser cidadão é participar na construção dos direitos. Não é ficar esperando que os direitos venham, mas lutar para que eles aconteçam na prática cotidiana. 
Uma sociedade educadora é aquela que ensina seus cidadãos a lutar pela cidadania plena. É aquela que nos tira da falsa ideia de que basta pagar impostos e o Poder Executivo que faça sua parte. Esse tipo de pensamento tem permitido que cresça a corrupção em nosso país. Quando permitimos isso, estamos lavando nossas mãos da responsabilidade educadora. Isso não é nada bom porque perpetua um modelo de sociedade acomodada e sem iniciativa. 
Cidadania é construção de direitos. A cidade educadora não permite que a corrupção impere, pois ela irá cobrar o direito a ter parques, praças, espaços recreativos, coleta seletiva de lixo, lixões certificados, ruas arborizadas, avenidas pavimentadas com direito a suspiros ecológicos, escolas bem equipadas, ciclovias, água tratada e esgoto em todas as casas, crianças nas escolas de tempo integral, crescimento com sustentabilidade, entre outros. E quando o cidadão cobra esses direitos, não sobra tempo para que a corrupção se desenvolva, porque os recursos não poderão ser desviados. Portanto, cabe ao cidadão exercer um papel educativo. Uma sociedade pautada pela educação cidadã mais facilmente se desenvolve, cresce e dá um passo para o futuro.
Não pense, caro leitor, que isso basta. O poder público tem que cumprir sua parte, exigindo que os gestores públicos das várias pastas assumam também um compromisso com esta meta. Talvez aí esteja a principal dificuldade. Penso, porém, que é um principio de mudança se conseguirmos dar o primeiro passo nessa direção. Isso é fazer a revolução.
Quando a presidenta Dilma elegeu a educação como prioridade e se comprometeu em tornar o Brasil uma sociedade educadora, imaginei que era disso que ela estava falando e que, enfim, teremos uma nação com maiores e melhores perspectivas de futuro. Por isso o discurso de posse me trouxe alguma esperança. Claro que não ponho a mão no fogo por ela e nem por político algum, mas que me deu um pouquinho de esperança, isso deu.
PS1: Nas próximas semanas vou continuar conversando sobre este tema, procurando fazer algumas reflexões que impactem em nossa realidade local.
PS2: Visitem meu blog e deixem suas considerações por lá. javascript:nicTemp();

COLUNISTAS / Daniel Munduruku

Daniel Munduruku é graduado em filosofia e doutor em Educação pela USP(Universidade de São Paulo).

Autor de premiados livros para crianças e jovens, reconhecido nacional e internacionalmente, comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República.  Reside em Lorena desde 1987; é casado com a professora Tania Mara, com quem tem três filhos.


dmunduruku@uol.com.br

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