Autor: Daniel Munduruku

Daniel Munduruku é graduado em filosofia e doutor em Educação pela USP(Universidade de São Paulo).Autor de premiados livros para crianças e jovens, reconhecido nacional e internacionalmente, comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República. Reside em Lorena desde 1987; é casado com a professora Tania Mara, com quem tem três filhos.
O ano tão esperado chegou. Queremos esquecer o ano passado, que foi marcado por uma mudança radical no estilo de vida até então vivido pelas pessoas. Hábitos foram mudados, trajetórias foram interrompidas, lágrimas foram jorradas, comércios foram fechados, eventos cancelados, escolas virtualizadas. O mundo se viu, pela primeira vez, escravo das lives, das virtualidades também dos sentimentos e dos afetos. Foi, de fato, um ano poucas vezes imaginado até mesmo pela literatura de ficção. Foi um ano que aumentou a fé das pessoas na sobrenaturalidade da existência humana. As experiências da quase-morte nos levaram a imaginar que o apocalipse chegaria…
Tive a honra de sair candidato a prefeito por Lorena este ano. Devo dizer que foi uma experiência muito importante, de grande aprendizado pessoal. Posso afirmar que hoje sou uma pessoa melhor por ter experimentado um modo novo de olhar para nossa cidade e enxergar seus problemas, suas demandas e sua gente. Foi bom poder olhar a política a partir de dentro e ver que, sim, é possível mudar nossa realidade com projetos que cumpram a função social de oferecer bem-estar e felicidade a todas as pessoas. Neste sentido, fui um aprendiz e o resultado obtido mostrou-me que a esperança…
Começou nesta quarta-feira, 21 de setembro, a IV Jornada Literária do Vale Histórico. A abertura acontecerá no Auditório São José, no Unifatea, a partir das 19 horas, mas durante o dia, já está havendo programação da Jornada, que segue até sábado, dia 24. O evento, que está em sua quarta edição, foi idealizado por Daniel Munduruku e tem por objetivo difundir a cultura literária entre as crianças e jovens da cidade e região. Este ano, o tema é “Literatura de cordel e tradição oral: um encontro ancestral”. A literatura de cordel é um estilo poético que muito tem de oralidade.…
Tenho lido bastante coisa sobre uma certa escola sem partido, proposta feita por um grupo de deseducadores nacionais. Fiquei pensando muito compenetradamente sobre o tema e achei por bem dar minha versão sobre o grupo que propõe tão descarado projeto. A escola sem partido já existiu no Brasil. Ela começou em 1964 quando por aqui foi engendrado um golpe militar. Nessa ocasião, os direitos dos cidadãos foram cassados pela ideia de que era preciso construir uma pátria voltada para os princípios da moral e do civismo. Todos os brasileiros deveriam aprender a honrar sua pátria e sua família. Professores não…
Vivendo na cidade, morei em várias casas. Éramos pobres. Ou ao menos era assim que a gente era visto. Não tínhamos casa própria e, por isso, andamos por muitos lugares. Meu pai dizia que a gente não era pobre, apenas não precisávamos ficar presos às coisas. Ele dizia que nossa gente era nômade. Quis saber o que significava essa palavra. Ele disse que não devíamos parar num mesmo lugar para não ter que juntar muitas tralhas. Não entendi nada, mas fiz que sim. O fato é que a gente era pobre mesmo. Na mata, a gente consegue tudo o que…
Quando eu tinha 11 anos, já havia superado algumas coisas da época em que entrei na escola. Foi uma superação lenta e difícil porque as pessoas continuaram a me apelidar e a me provocar reações violentas. Na cabeça delas, eu era um ser que só poderia ser alguém se abrisse mão do que eu era. Meu avô não deixara isso acontecer e me alertou para o orgulho de pertencer a um povo e ter uma ancestralidade. No entanto, eu era um menino-quase-homem, conforme a tradição de minha gente. Isso me dava algumas prerrogativas que me permitiam lembrar que estava em…
Fui desde pequeno aluno de escola salesiana. Os salesianos são missionários. Eles vieram da Itália para o Brasil e muitos outros lugares do mundo. Foram fundados por um sacerdote de nome João Bosco. Virou Dom Bosco. Foi inspirado pelo universo a cuidar das crianças. Para isso, criou um modelo de educação baseado no afeto. “Educação é coisa do coração”, ele dizia. Seu pensamento rompeu com o modelo que existia até então e que pregava o distanciamento entre os que sabem – professores, mestres – e os que não sabem – os alunos, estudantes. Na cabeça dele, os educadores salesianos deviam…
Na tradição de minha gente, quando o velho está prestes a morrer, é comum que se preste nossa última homenagem para dizer quão importante ele foi na nossa história pessoal. Sem o velho a memória desfalece, mas sem o ritual que lembre que ele foi parte da vida que renasce, a memória desaparece. Os rituais servem para não esquecermos quem somos, de onde viemos, para onde caminhamos e como podemos construir nossa história que, apesar de única, não pode ser individualista, pautada pela ingratidão gerada pela falsa ideia de que somos mais e melhores que o mundo que nos rodeia.…