Na tradição de minha gente, quando o velho está prestes a morrer, é comum que se preste nossa última homenagem para dizer quão importante ele foi na nossa história pessoal. Sem o velho a memória desfalece, mas sem o ritual que lembre que ele foi parte da vida que renasce, a memória desaparece.
Os rituais servem para não esquecermos quem somos, de onde viemos, para onde caminhamos e como podemos construir nossa história que, apesar de única, não pode ser individualista, pautada pela ingratidão gerada pela falsa ideia de que somos mais e melhores que o mundo que nos rodeia. O que nos torna únicos é a ideia de que somos parte. É por sermos parte que somos únicos. É a memória que não nos permite esquecer essa verdade que se inscreve em cada ser vivente.
O velho 2015 está se apagando. Talvez muitas pessoas desejem esquecê-lo por tudo o que ele representou. Outras talvez tenham desejado que ele nunca existisse pelas dores e sofrimentos que causou. No entanto, digo eu, estamos aqui para ritualizá-lo, para que não percamos a sabedoria que ele nos presenteou; dançarmos a música do tempo; sentirmo-nos parte da história vivida; agradecermos a vida gerada por mãos perfumadas; alimentarmos a crença na esperança; cantarmos a melodia do universo.
O ritual nos lembra que é preciso morrer o velho para que o novo nasça. É assim com as sementes; com as estações do ano; com as frutas maduras que caem do pé para dar lugar às verdes; com a lagartas que viram borboletas… É assim com a vida em todas as suas dimensões e sob todas as suas formas.
2015 retirou-se do palco para dar lugar a um palco novo, 2016. Nesse palco, serei eu o ator.
2015 já foi tarde? Não, foi na hora certa, e eu pude sorver cada segundo dele para não perder o privilégio de tê-lo vivido.
Que 2016 nos empreste sua magia e nos torne criativos, gratos, presentes, intensos, vivos, reais, otimistas, esperançosos, honestos, alegres, participativos, coletivos, francos, honrados, patrióticos, orgulhosos, atuantes, vibrantes, comprometidos… PARA SEMPRE!