• SANTA CASA SECUNDARIO

FOTOS
VÍDEOS
COLUNISTAS / O saber acontece

Conhecimentos e saberes

04/09/2015

Minha formação humanística foi muito precária. Adentrei a escola pública na infância em pleno auge da ditadura militar e não tive contato com disciplinas importantes como Sociologia ou Filosofia. No máximo, eram os Estudos Sociais que agregavam principalmente Geografia e História. Esta última era voltada à visão não questionadora dos fatos, especialmente os relacionados com o governo militar. Tive de decorar os nomes dos ministros, mas não fui colocado em contato com os movimentos sociais e políticos que estavam ocorrendo no mundo todo, da América Latina à Europa, da Ásia à África.
No Ensino Médio – quando eu fiz era “segundo grau” – a situação melhorou um pouco porque tive aula de OSPB com um ex-militante do MR-8. O Professor Orestes tinha um ar de Che Guevara, cabelos e barba longos e desgrenhados, um olhar vívido, porém desconfiado de tudo e todos ao redor. Assim, ele subvertia a “Organização Social e Política Brasileira” para nos mostrar um pouco de política verdadeira.
Somente na Universidade, fazendo um curso de exatas, é que comecei a conhecer um pouco mais sobre o mundo em que vivia. Meados dos anos 80, fim da ditadura, anseios e frustrações da redemocratização: assistia a todos os discursos e apresentações e visitas de políticos e formadores de opinião que iam à Unicamp. Vi Lula, Sarney, Hélio Bicudo, Eduardo Suplicy, Magalhães Teixeira (prefeito de Campinas, já falecido), além dos reitores, ex-reitores e candidatos a esses cargos que vieram a ter destaque em políticas públicas de saúde e educação: Paulo Renato, José Aristodemo Pinotti, Carlos Vogt, Cerqueira Leite.
Hoje me enalteço quando assisto a palestras e apresentações de estudiosos da História, das Artes e da Política. Não terei tempo de ler todos os clássicos que deveria ter lido e procuro adentrar um pouco esse mundo com leituras de revistas especializadas no fino das Humanidades, como a CULT. Revistas semanais já me cansaram por ter uma posição política única e ficar o tempo todo insistindo que são isentas ou plurais. Por isso me limito à leitura profunda de CartaCapital que sempre assumiu suas posições políticas e não tenta enganar seus leitores. Das demais, vejo apenas as capas, que já traduzem seus conteúdos, cada vez mais superficiais. Mas, ao menos, é um tempo de franca liberdade de expressão, coisa que, paradoxalmente, muitos nas ruas estão pedindo para acabar.
O conhecimento que a internet traz é aberto, mas sem os devidos filtros fica-se perdido com tanta informação e contradição. Ler, aprender e conhecer são consequências de ações imediatas. O saber é que é mais difícil de alcançar, fruto de uma vida – ou mais.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

MAIS LIDAS