Vamos falar sobre a popularização das artes. Antes, porém, preciso dizer que tenho 63 anos e recebi um grande presente, que foi ser o idealizador da criação da Allarte, fundada no dia 24 de setembro de 2014, quando recebi o apoio de mais 14 pessoas para, juntos, então fundarmos a Academia Lorenense de Letras e Artes, a qual trouxe uma grande mudança para o cenário artístico e cultural de Lorena.
Fiz questão de mencionar minha idade simplesmente para falar que sou avesso à frase que diz: “Precisamos de sangue novo para realizar as mudanças”. Não gosto dela por duas razões: primeiro porque este pensamento joga sobre os ombros dos mais jovens toda a responsabilidade pelas mudanças; e por outro lado, outorga um atestado de incompetência aos mais velhos, subestimando sua capacidade de mudar alguma coisa.
“Todos os dias, o nosso sangue é renovado enquanto o sangue velho é destruído. As toxinas são liberadas através dos rins e pele. Os componentes úteis das toxinas e do sangue velho são retidos na vesícula e utilizados posteriormente”.
Se o nosso sangue passa por esta mudança, por esta transformação, por que as ideias devem permanecer inalteradas? Todos, independentemente da idade, são responsáveis e capazes de trabalhar para que as mudanças desejadas e necessárias ocorram. Porém, a exemplo do que ocorre com o sangue novo, que retira do sangue morto os componentes úteis, os princípios éticos e morais devem ser resguardados e preservados.
Assim, nasceu a Allarte, com pessoas de diferentes idades, mas com propósitos bem definidos, visando uma mudança no conceito de Academia, mudança esta que ocorreu desde a sua sessão de instalação, quando o Salão Nobre da Casa da Cultura de Lorena ficou completamente lotado.
Este formato, diferente do habitual, deu-lhe o rótulo de “Academia genérica”. Desconhecemos o autor desta nomeação, que não foi recebida por nós como uma ofensa e sim como um grande elogio. Elogio sim, pois quando fazemos uma analogia com os medicamentos genéricos, vemos que eles provocaram uma revolução, trazendo a todos as pessoas a possibilidade de pedir o seu remédio pelo princípio ativo. Hoje, alguém pode chegar a uma farmácia e pedir por um “diclofenaco potássico”, coisa que, antes do advento dos genéricos, era um privilégio de poucos.
É, porém, necessário que fique bem claro que popularizar as artes não é o mesmo que vulgarizá-las. Popularizar não é reduzir a sua qualidade ou desqualificá-las e sim fazer com que elas se tornem acessíveis a todas as pessoas.
O fato de alguém não ter uma obra de arte em sua casa não significa, a princípio, que ela não goste de obras de arte. O mesmo ocorre com aqueles que não vão ao teatro, a um concerto ou a um sarau. Estes fatos não caracterizam a ausência do gosto por estas formas de arte. O que falta, na maioria dos casos, é acesso a elas.
Assim, a Allarte nasceu com a missão de levar as artes e buscar os artistas, através de projetos que eliminem as barreiras e encurtem as distâncias entre os artistas e o público.
Através de seus projetos, a Academia compartilha a arte nas escolas, faculdades, asilos, lojas, supermercados, parques da cidade, além de realizar as suas sessões solenes, que são grandes saraus, em diversos locais da cidade, facilitando o acesso das pessoas.
Para a Allarte, uma Academia deve ser conhecida e reconhecida não pelo nome fantasia ou por uma sigla, seja ela qual for, mas pelos seus princípios ativos, tais como a valorização das artes e dos artistas, a abertura de oportunidades e pela acessibilidade que oferece a todos.
Ildebrando Pereira da Silva
Presidente da Allarte