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COLUNISTAS / O saber acontece

O trânsito como aprendizado

13/11/2015

Talvez seja o trânsito um excelente laboratório para se avaliar o nível de educação e convivência social harmônica de uma população. Deixo, como sempre, aos meus colegas especialistas da área a palavra final, mas dou-me o direito de algumas hipóteses e especulações.

Quando obtive minha habilitação como condutor, algumas décadas atrás, havia uma sensação de pânico generalizado para se realizar a temível prova escrita. Senti-me realmente mal, mas pelo baixíssimo nível de conhecimento de escrita exigido. E aquilo já foi motivo de constrangimento para muitos. Assim, como esperar que esse motorista vá ler o Código Nacional de Trânsito e regulamentações congêneres para saber como conduzir seu veículo nas vias públicas, em convivência com outros da mesma sorte e – o mais importante – com os pedestres? Pode-se dizer que ele não teve educação? Sim teve. Não teve aprendizagem.

Uma dessas questões é o uso da buzina, que substitui muitas vezes a campainha ou serve de gesto de aceno e cumprimento. Mas o mais curioso é seu uso em cruzamentos não sinalizados, quando o motorista passa em razoável velocidade, buzinando e restando a dúvida se ele pararia quando ouvisse o mesmo sinal sonoro de outro veículo. Creio que não. A preferência, nesses casos, não é de quem buzina e sim de quem vem pela direita.

Andar em curva com o carro, mesmo em avenidas com várias faixas, é outra tarefa quase impossível. A tendência é manter o veículo em linha reta, ignorando o movimento a ser feito com o volante.

Mesmo assim, há curiosidades. Milton Jung, um famoso radialista da CBN, cujo jornal procuro ouvir todas as manhãs, certa vez, ao discutir a reivindicação dos motociclistas para trafegar pelo inexistente corredor entre duas fileiras de carros, afirmou que esse código de trânsito estabelecia a necessidade de se ligar a seta (pisca-pisca) e esperar que a luz indicadora piscasse seis vezes antes de mudar de faixa. Tal número ou prática não consta da lei e nem das versões anteriores dela, pelo que constatei. Fruto de sua imaginação ou do senso comum.

Em tempo: sou um mau motorista e não gosto de dirigir. Tenho e uso carro por pura necessidade – criada, talvez pela conveniência e conivência – e nunca pensei esse veículo como um objeto de investimento, de poder, de posse ou de qualquer tipo de satisfação.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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