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As Lorenas das várias gerações

08/12/2015

Quem falava era a minha sogra, uma senhora lorenense de mais de 94 anos de idade:
– Então, exatamente às seis horas da tarde, o guarda fechou o último dos portões do jardim da praça João Pessoa, no centro da cidade.  Lá dentro, esquecidos da passagem do tempo, ficaram presos a Conceição Seixas e o seu namorado. Foi o maior escândalo!
Em seguida, ela foi dizendo:
– Vocês não se lembram do Cine Rio Branco?  Uma das três irmãs Canettieri, a Nair – as outras eram a Rosinha e a Marina –, tocava piano durante a projeção dos filmes…
Eu e minha mulher tivemos que dizer à anciã que aquela Lorena da qual ela falava era do tempo da Revolução de 1930, quando a praça Arnolfo Azevedo passou a denominar-se João Pessoa, em homenagem ao governador paraibano assassinado naquele ano.  Tivemos ainda que lembrar-lhe que nós éramos do tempo do “Nosso Cinema”, que havia sido inaugurado em 1942, com o filme “Sempre no meu Coração”, e que o Cine Rio Branco foi contemporâneo de pessoas que hoje têm, no mínimo, 85 anos de idade…
Essas reminiscências de uma lorenense do tempo em que o Conde Moreira Lima ainda vivia na cidade, levaram-me a pensar nas metamorfoses urbanas no Vale do Paraíba, mas especificamente, de Lorena.
Pensei o seguinte: nós, seres humanos, envelhecemos na evolução do tempo; as cidades, ao contrário, rejuvenescem no decorrer dos anos, para melhor ou para pior.  Digo para pior porque, às vezes, as transformações urbanas são novidades horrorosas que enfeiam a cidade.  E não é só enfeiar – é também descaracterizar o meio urbano, destruindo antigos valores espirituais e materiais que deveriam ser permanentemente preservados.
Veja quem me lê a transformação de um cinema tradicional numa loja de artigos domésticos; a mudança de um clube social para o arrabalde e a instalação de um banco em seu lugar; a demolição de uma padaria das famílias lorenenses e o surgimento de um outro banco na mesma praça; a derrubada da linda chaminé de uma antiga fábrica de açúcar e, mais recentemente, a  demolição de uma parte da estação de ferro de Lorena. Mas às vezes, ressalve-se aqui, a mutação urbana pode ser positiva e desejada por todos, como a construção de uma nova rodoviária, a inauguração de uma biblioteca, a criação de novas escolas e creches…
Essas mudanças urbanas que hoje percebemos estão ligadas às várias gerações que se sucederam no tempo.  Vejam só isso: a minha geração, que hoje tem de 65 a 70 anos de idade, coexistiu com o antigo Clube Comercial; os mais jovens convivem com o banco Santander que existe em seu lugar; os meus contemporâneos conviveram com a leiteria Hepacaré, com o bilhar, com os bares “O Ponto” e “Líder Bar”, na praça principal; já a geração de hoje, ali conheceu somente o Supermercado Ballerini, cenário de aproximadamente 30 anos das suas ainda curtas vidas, e o Diniz Discos. Recentemente, vi fechada a sorveteria que existiu por tantos anos na outra esquina dessa mesma praça; já nós, os mais velhos, nos lembramos, sim, da saudosa Casa Notre Dame, do seu Armênio Gomes, que existia naquele local. E assim por diante…
É a cidade se transformando em novas paisagens urbanas, renascendo como a mitológica Fênix das cinzas.  É Lorena em direção ao futuro e deixando para trás as nossas vidas transitórias…

COLUNISTAS / Olavo Rubens

Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.


olavo.rubens@hotmail.com

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