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Seu Cornelinho conta uma história

30/12/2015

Eram quinze para as cinco da manhã e o portão da casa do seu Cornelinho já estava aberto para os convivas do café matutino. Eles vinham de todos os lados do centro urbano: já estava chegando o Egas, um moço alto e corpulento, filho da dona Mariana, irmã do dono da casa; o Carlos, marido da Marly, sobrinho do seu Cornelinho; o Carlos Marcondes com um dos seus filhos; o seu Cid Vilela Nunes; o seu Niso, irmão da dona Isis, mulher do dr. Wander; o dr. Wander (que tinha um lugar cativo à mesa) e o seu filho Paulo.

A dona Titina, mulher do seu Cornelinho, vinha preparando o café desde muito cedo (dizia-se que acordava lá pelas três e meia ou quatro horas da manhã): além de um bule de café fumegante, muito leite e chá, ela servia todos os dias um bolo de milho, outro de fubá e um pudim de pão. Isto sem falar na possibilidade de serem servidos roscas doces, biscoitinhos de nata (especialidade da dona Honorina, irmã solteira do seu Cornelinho), pão de queijo e outras especialidades mineiras.

Todos os presentes sabiam que esse café podia durar até as sete e meia da manhã. O daquele dia talvez chegasse até as oito, pois armou-se uma grande discussão matutina sobre algum assunto do momento, que era talvez sobre política. Nesses momentos, o seu Cornelinho, um homem avesso às discussões, saía da sala e ia lá fora, com um grande ramo de árvore, varrer a rua da frente da sua casa.

Mas os ânimos pareciam ter-se arrefecido antes do tempo esperado, oportunidade em que o dono da casa voltou para o convívio dos seus e dos amigos e dispôs-se a contar uma das muitas histórias que costuma narrar naquelas madrugadas lorenenses.

Desta vez era sobre um conhecido seu de Poços de Caldas, que foi a São Paulo na casa de um amigo, para fazer não se sabe o quê.

Pouco antes de ir embora, o visitante sentiu uma enorme dor de barriga e foi desesperado para o único banheiro da residência, que encontrou fechado.

Ele não aguentou mais e aliviou-se sorrateiramente num imenso vaso de flores que enfeitava um dos corredores da casa. Ninguém viu e ele conseguiu despedir-se rapidamente e ganhar a rua o mais depressa possível.

Mal chegando a Poços de Caldas, o mineiro porcalhão teve uma crise de apendicite e foi operado às pressas num hospital da cidade. Nesse mesmo dia, ainda sob as dores fortes resultantes da operação, ele recebeu um telegrama do seu amigo paulistano nos seguintes termos: GRANDE FEDENTINA. MANDE DIZER ONDE SUJOU. 

COLUNISTAS / Olavo Rubens

Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.


olavo.rubens@hotmail.com

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