Uma foto artística e nela pretende-se expressar o movimento da imagem. Em primeiro plano, uma coluna de mármore, ladeada por outras colunas de mesma natureza que se afastam em direção ao fundo de um ambiente (igreja, palácio?), diminuindo de tamanho em perspectiva. Ao final da série de sustentáculos de um teto imaginário, a figura de uma pessoa caminhando. Pronto, a fixação de um momento congelado, nítido, consegue dar a impressão e a leveza de um andar puro da pessoa, acompanhando o movimento, com certeza inexistente, das colunas.
Usar dessa abordagem poética para descrever uma foto é uma liberdade que me permito para exemplificar o quão difícil é ser preciso quando o fato do qual se falar e deixar registrado é um feito científico ou tecnológico. Na arte, imprecisões dão o charme ao objeto em estudo, o que pode se constituir em outra forma artística da mesma origem – a reinterpretação de livros que viram filmes é um dos casos mais típicos.
Assim, um professor se manifesta no Painel do Leitor da Folha de S. Paulo para criticar que tinham usado o termo “descoberta” para se referir aos novos elementos químicos dos quais tratei no texto anterior; ele avocava que o correto era falar de “criação”, pois são átomos não existentes até então. Na sequência, outro leitor rebateu o primeiro, dizendo que apenas a arte pode criar algo, não a ciência! Sobre essas cartas não me manifestei – o que não é comum, incontrolável que sou quando o assunto é alguma polêmica de minha área –, mas tomei o cuidado de não falar nem de descoberta nem de criação em meu texto, mesmo escrito anteriormente às duas cartas citadas.
Sabemos o quão difícil é descrever um fenômeno químico ou físico à luz da escolha correta de palavras. Por equações ainda há algo mais próximo ao entendimento dos que trabalham na área, mas quando se quer traduzir para o chamado público leigo, escorregões são comuns. Muitos colegas têm ojeriza de se debruçar sobre textos de divulgação científica, mas defendem que haja maior popularização da ciência. Uma coisa caminha necessariamente com a outra. O jornalista não tem formação científica, mas quando trabalha em conjunto com o profissional da área consegue avanços que antes não existiam. Não que se vá resolver a dúvida entre descoberta ou criação de novos elementos químicos, mas saber que diagnóstico não é tratamento e por que medicamentos devem ser tomados em horários e em intervalos definidos é algo da ciência que paira sobre nós ininterruptamente e passaríamos a nos entender melhor se esses fatos e efeitos fossem mais bem descritos.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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