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COLUNISTAS / O saber acontece

Detalhes nem tão pequenos

17/06/2016

Tutancâmon (ou Tutankhamon) possuía uma faca de outro mundo e foi enterrado com ela. A notícia foi divulgada de forma enviesada, dizendo que o metal presente no artefato era de origem extraterrestre por estar presente em um meteorito caído em nosso planeta. Na verdade, os metais são sempre os mesmos no universo, independentemente de sua fonte, e o que se quis dizer foi que aquela composição metálica, aquela mistura de metais, aquele material formado por metais, é que era de origem de fora do planeta e foi usado para fabricar a faca encontrada junto ao túmulo do faraó.

Pequenas quantidades – os chamados traços – de elementos presentes na composição de materiais usados são um indicativo de sua origem ou processamento. Os seriados de televisão baseados em ciência forense usam e abusam desse conceito para que os personagens policiais possam saber o que aconteceu em relação aos crimes que investigam.

Fórmulas e notações se utilizam de uma sistematização que deve ser entendida para ser compreendida. A já conhecida H2O é diferente de 2H2O ou O2. O índice, o número que vai abaixo da linha, significa a quantidade de átomos do elemento representado à esquerda naquele composto e o coeficiente, o número que vai antes da fórmula, representa a quantidade daquela substância frente a outras que estarão em uma reação ou composição. Não é trivial, os alunos sabem. Mas cai no vestibular – esse oráculo para onde todos se voltam como se fosse a razão da existência do saber…

Quando se migra para a definição médica, fisiológica e farmacêutica, a necessidade de particularização fica mais evidente e causa confusão ou mesmo falta de domínio até por quem é profissional da área.

Várias vezes usei meus espaços para discorrer sobre diferenças entre substâncias e elementos químicos, misturas e compostos e o que é precisão e exatidão. Porém, em um mundo no qual a palavra de um douto juiz vale mais que os fatos, não me caberia chover sempre no mesmo molhado; porém é o que eu acabo de fazer.

Nos detalhes moram muitos seres imaginários e também a precisão dos fatos e das palavras.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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