Desde quando iniciei a leitura dos primeiros livros, os clássicos infanto-juvenis, faço esta pergunta: o que torna alguém escritor?
Será que estes seres tão especiais, como Stevenson, Érico, Twain e Clarice, entre tantos outros, simplesmente nascem com um dom que aflora naturalmente e os move de forma inexorável para a pena?
– O dom, por si só, não quer dizer grande coisa. Sentir-se à vontade com as palavras, a ponto de arranjá-las de modo a surpreender e envolver, e até criar algumas, é requisito básico para um escritor de verdade. Só que a este talento natural é preciso acrescentar uma série de outros ingredientes, como o esforço (que envolve estudo, gasto da caneta em incontáveis exercícios e muita, muita leitura).
– O amor pelas letras, que costuma vir à tona logo cedo, na infância, pode ser uma boa resposta. Porém, não é a resposta. Há os que adoram livros e jamais se sentiram atraídos a produzir uma linha sequer. Outros até escrevem, mas escondem os textos na gaveta, o que lhes tira uma das principais qualidades dos escritores: a coragem da exposição de seu nome e ideias ao mundo.
– O ego? Claro, uma publicação pode deixar seu autor famoso ou, ao menos, permitir que ostente em seu círculo o nobre título de escritor. Só que… vale a pena diante da contrapartida, que é a real possibilidade de ser objeto de escárnio e sofrer avassaladoras críticas, caso seu texto não tenha um padrão de qualidade que seus contemporâneos julguem bom? Por outro lado, é curioso como a maioria dos bons escritores não são afeitos a aparições públicas, preferindo deixar que suas obras – e respectivos personagens – ganhem as mídias, como se fossem filhotes que obtiveram vida própria a partir da publicação. Há os que até preferem usar pseudônimos, o que também dá o que pensar àqueles que, apressadamente, pensam que o escritor sonha com loas e tapinhas nas costas.
– Enriquecimento? Ora, conta-se nos dedos os autores que usufruíram financeiramente de suas obras, em todos os tempos, em todos os países. No Brasil, país que pouco lê (infelizmente), nem se fale. A verdade é cruel, mas precisa ser dita sem melindres: a esmagadora maioria dos autores nacionais não vive da literatura, pois isso é extremamente complicado.
– O desejo irrefreável de escrever? Sim, todo aquele que almeja ser escritor se dispõe a trocar sem pestanejar muitas de suas horas prazerosas por uma boa e solitária “briga” com a folha branca à sua frente. Porém, o esforço despendido, mesmo elevado à categoria da exaustão, dificilmente resulta em uma boa peça literária. Portanto, só a vontade não basta.
Então, o que torna alguém escritor?
Talvez as respostas anteriores estejam corretas em certa medida. Mas nem somadas elas permitem dar início a uma conclusão: falta o motivo contundente, aquele que faz, mais do que o cérebro, a própria alma gritar: “sou um escritor”.
Alguém só pode se considerar, e ser considerado escritor, no momento em que produz e publica um texto verdadeiramente útil, que acrescente de maneira sadia, que merece ser lido e estudado após sua morte.
Ser útil através da pena. Para hoje e todos os amanhãs. Creio que é isso.
Haroldo Barbosa Filho: Membro Correspondente da ALLARTE na cidade de São José dos Campos. Ocupa a Cadeira Nº 06 – C e seu Patrono é Érico Veríssimo.
A Allarte (Academia Lorenense de Letras e Artes), fundada no dia 24 de setembro de 2014, tem como objetivos: acolher em seu seio valores literários e artísticos, resgatar a história de nossa cidade, apoiar e desenvolver o culto das letras, das artes e do intelecto, valorizar escritores e artistas locais exaltando pessoas e datas significativas, promover a defesa da língua, dos valores morais e éticos que fundamentam a civilização ocidental e a formação brasileira.
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