Escrevi um texto sobre os cursos técnicos integrados do IFSP, publicado no jornal Página Popular de Hortolândia, discutindo a experiência com êxito do sistema federal de ensino, que está sendo desmontado e destruído agora, como muita coisa na área social do país. Devido ao limitado espaço daquele jornal, algumas informações ficaram de fora, especialmente sobre minha condição de técnico, que compartilho agora.
Minha formação foi em curso técnico integrado em Química quando não havia outra possibilidade e nem se rotulava o curso com esse nome – integrado – pois todo técnico incluía o Ensino Médio, ou segundo grau, conforme a nomenclatura da época. Saímos formados com dois diplomas, um para exercer a profissão, outro para permitir a continuidade dos estudos em nível superior.
Não havia, porém, preocupação com a formação humanística, restrita ao primeiro ano, devido à conjuntura de vivermos em uma ditadura militar e com a ênfase em propiciar o máximo de conhecimento técnico no período do curso. No meu caso, o tempo total foi de quatro anos, por ser um curso noturno, mas ao cabo do terceiro ano já recebíamos o referido diploma para podermos adentrar a faculdade. Língua portuguesa e matemática eram duas disciplinas intensas em todos os anos.
Assim, a proposta atual de rever os cursos técnicos, praticamente impedindo que esses alunos adentrem uma faculdade, é extremamente danosa. No artigo publicado, citei que a presença integral dos alunos no campus leva a uma intensidade não usual de práticas pedagógicas aos alunos, que até tem sido criticada por muitos deles por não estarem habituados, mas é a melhor alternativa, em minha opinião, mesmo que isso resulte em haver pouco tempo livre para os alunos. Mas se for para tolher desses meninos e meninas possibilidades futuras, com certeza haverá desestímulos.
Ganhos sociais levam décadas para serem conquistados, mas basta um ato oficial para serem destruídos. Passivamente assistimos a tudo isso.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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