Ano de 1954. Aula de redação no terceiro ano no Grupo Escolar Gabriel Prestes. A professora é a dona Florentina, mulher do sr. Milton Areco, pessoa muito conhecida na cidade. Eu cheguei um dia desses de Caraguatatuba, onde morava, e agora estou residindo e estudando aqui em Lorena. Ainda não sei o nome de todos os meus colegas de classe, à exceção de um amigo de sobrenome Malerba (que corre ligeiro como um raio nas brincadeiras do recreio), o Nadir Leão, aquele menino baixinho que você vê ali com uma espécie de capa azul, sob a qual ele esconde uma porção de gibis; o Laerte de Almeida Gonçalves, irmão do seu Lamarck, casado com a dona Leni; o Paulo, um garoto escurinho que não tem uma mão.
É pra gente ler para a professora a redação que ela pediu sobre um aspecto pitoresco, diferente, da nossa cidade. Nós estamos atentos na leitura da redação de um coleguinha ruivo que se senta perto de mim. Ele diz:
– Existe em nossa cidade um bairro muito esquisito onde moram uma porção de mulheres que a minha mãe diz serem sem-vergonhas. Ele se chama Porteira Preta.







