“A Arnolfo Azevedo, Lorena deve os serviços de água e esgoto, a sede do Grupo Escolar Gabriel Prestes, a modernização da Praça Principal, o 53º Batalhão de Caçadores (hoje 5º BIL), o Ramal Férreo Lorena-Piquete, a luz elétrica, escolas rurais, a ponte metálica sobre o rio Paraíba e tantas outras realizações. Apesar dos grandes feitos, pode ser que o considerado o ‘Maior dos Lorenenses’ tenha morrido de desgosto. Isso porque, na época da Revolução da década de 30, o nome de Arnolfo Azevedo foi retirado da Praça Principal de Lorena, passando a chamar-se Praça João Pessoa. A justa devolução de seu nome à Praça custou o cargo do então prefeito Darci Leite Pereira, porque a família de João Pessoa exigia uma reparação legal ao que considerou um ultraje à memória do presidente da Paraíba”. Conheça essa história – que é parte importante da história de Lorena – na coluna do jornalista João Bosco “Paçoca”:
Arnolfo Azevedo pode ter morrido de desgosto!
“O Maior dos Lorenenses” pode ter morrido de desgosto, recolhido ao recesso de seu casarão, na Praça da Matriz, em frente à Câmara Municipal! Ali ele descansava em verdadeiro “exílio”, por praticamente doze anos, desde os idos de 1930 – quando uma Revolução depôs o Poder dominante e o afastou do cargo de senador que exercia – até 1942, quando faleceu. Primeiro, refugiou-se com a família, por alguns dias, na Embaixada Portuguesa, no Rio. Depois é que veio para Lorena, para o seu Solar.
Homenagem na Praça – “Meu Deus! Será que não mereço?”
Depois de toda uma vida sob os holofotes das notícias – primeira página em toda a grande imprensa do Brasil (não havia ainda a televisão para cobrir o dia a dia do poder – incluindo reuniões e viagens com presidentes da República), atuação destacada como presidente da Câmara dos Deputados e, depois, no Senado da República –, Arnolfo Azevedo padeceu em seu “exílio” em Lorena, nos seus últimos 12 anos. Em suas últimas horas ainda vivo, na manhã de 14 de janeiro de 1942, já no ocaso de sua vida, repetia, exaltado, medicado e assistido pelo dr. Sílvio Junqueira, ele disse: “Meu Deus! Será que não mereço ter meu nome numa das praças de minha cidade?!”
Isso porque ele estava ferido em seu amor próprio, acabrunhado diante de novas notícias que o amarguraram profundamente. Arnolfo Azevedo estava mais triste ainda porque chegou ao seu conhecimento que estavam pretendendo – de novo! – arrancar as placas de bronze recém-recolocadas, dando seu nome à Praça Principal de Lorena.
Isso já havia acontecido. Por mais de 10 anos, desde a Revolução de 1930, aquela Praça passou a chamar-se João Pessoa. Agora, anunciavam que jogariam na sarjeta as placas com seu nome. E diziam mais: que elas seriam jogadas junto ao Solar dos Azevedo, para que Arnolfo Azevedo compreendesse que uma parte da população de Lorena não desejava que seu nome figurasse numa das praças da cidade!
Início da era Arnolfo Azevedo
Em 30 de agosto de 1892, Arnolfo Azevedo inicia sua brilhante carreira política, aos 23 anos de idade, elegendo-se vereador e presidente da Câmara, naquele tempo também, cumulativamente, intendente municipal. Pouco depois, em fins de 1894, elegeu-se deputado estadual, aos 25 anos, para a legislatura 1895-1897, reelegendo-se para 1898-1900. Naquela época, podia-se acumular os cargos políticos municipais com os estaduais. Sob sua direção política, Lorena e a Praça Principal passaram por radicais transformações.
Radicais transformações
Houve notório embelezamento da Praça. O passeio do jardim era oval e, ao centro, havia um grande espaço, onde instalou-se um postinho de luz elétrica (implantada em Lorena por Arnolfo Azevedo, em 1912), com quatro braços de luz. Havia, também, muitos outros postinhos espalhados pela Praça, todos de ferro, com pedestal de cimento, encimados com globos brancos. Toda a pavimentação do jardim era atraente, de um pedregulho muito fino, sempre recobertos para evitar poças d´água. Veja, mais à frente, quanta coisa Arnolfo Azevedo fez por Lorena em sua vida pública!
Em 3 de novembro de 1928, pelo artigo 280, da Lei 278, a Praça Principal de Lorena recebeu a placa com o nome de Arnolfo Azevedo. Porém, dois anos depois, com a paixão revolucionária de 1930, na calada da noite, arrancaram a placa e a substituíram por Praça João Pessoa, presidente da Paraíba. Tal situação durou 11 anos, até 1941, quando, finalmente, foi reparada a injustiça ao ser considerado “o maior dos lorenenses”. Antes, em outubro de 1938, já havia sido encaminhado um abaixo-assinado à Prefeitura, solicitando a volta do nome de Arnolfo Azevedo à Praça, mas não teve andamento. Somente em 23 de julho de 1941, quando era prefeito o dr. Darci Leite Pereira, foi deferido o requerimento encabeçado pelo sr. Antonio de Godói Neto, com mais de mil assinaturas, solicitando a recolocação da placa com o nome de Arnolfo Azevedo.
Adoentado, aos 73 anos, acenou da janela do Solar
Em 11 de novembro de 1941, quando Arnolfo Azevedo já perdera grande parte de sua vitalidade e encontrava-se em constante vigilância médica, data de seu 73º aniversário, a 2 meses de sua morte, foi recolocada, em festas, nova placa de bronze, com seu nome na Praça, reparando a injustiça que tanto lhe ferira o coração.
O grande parlamentar da Primeira República, homenageado, não esteve presente, devido ao seu estado de saúde. Depois, após a recolocação da placa com o seu nome, saudou, da janela de sua casa, à praça da Matriz, os alunos do Ginásio Municipal São Joaquim e Escola Normal Patrocínio São José, mais populares e autoridades que dirigiram-se até o seu Solar.
Prefeito deposto pela reparação da injustiça a Arnolfo Azevedo
A volta do nome Arnolfo Azevedo à Praça Principal de Lorena custou o cargo do prefeito Darci Leite Pereira, porque a família de João Pessoa exigia uma reparação legal ao que considerou um ultraje à memória do presidente da Paraíba, com a retirada das placas com seu nome da Praça Principal da cidade e, em particular, com a sua colocação na antiga Praça Dois de Novembro, ainda hoje Praça João Pessoa, em frente ao Cemitério. Considerava a família Pessoa que, por ser um lugar não ajardinado, um simples capinzal, onde animais pastavam à vontade, constituía-se uma ofensa moral a João Pessoa.
Por isso, no início de janeiro de 1942, o interventor federal, dr. Fernando Costa, chamou o prefeito Darci Leite Pereira em São Paulo, exigindo-lhe reparação do ato, não existindo ao prefeito de Lorena outra saída, a não ser demitir-se. Assim, a família Pessoa considerar-se-ia satisfeita e a Praça Principal continuaria com o nome de Arnolfo Azevedo. E foi o que aconteceu: Darci Leite Pereira exonerou-se, sacrificando-se em holocausto ao filho ilustre de Lorena. Transmitiu o cargo ao novo prefeito, o prof. Luis de Castro Pinto.
Todos esses acontecimentos amarguraram muito Arnolfo Azevedo, que teve seu estado de saúde agravado, inconformado com o sacrifício do amigo que só quisera reparar uma injustiça. E na manhã de 14 de janeiro de 1942, seu médico foi chamado às pressas, pois ele havia piorado sensivelmente, encontrando-o fortemente exaltado, levando-o a um colapso cardíaco que lhe tirou os sentidos. Socorrido, voltou a si, mas continuava muito exaltado e repetindo por várias vezes esta frase:
— Meu Deus! Será que não mereço ter meu nome numa das praças de minha cidade?!
Eram onze horas e trinta minutos quando novo colapso o atingiu, fulminando-o. Morrera Arnolfo Azevedo, levando amargura em seu coração, deixando na lembrança de todos a certeza de que foi o maior dos lorenenses.
Belíssima carreira com grandes realizações
Vereador, presidente da Câmara, intendente municipal (prefeito), deputado estadual, deputado federal, presidente da Câmara Federal. Idealizador e responsável pela construção do Palácio Tiradentes (sede do Congresso Nacional, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil) e senador. A ele, Lorena deve os serviços de água e esgoto, a sede do Grupo Escolar Gabriel Prestes, a modernização da Praça Principal, o 53º Batalhão de Caçadores (hoje 5º BIL), o Ramal Férreo Lorena-Piquete, o matadouro, a luz elétrica, escolas rurais, a ponte metálica sobre o rio Paraíba, edifícios públicos, a equiparação do Ginásio São Joaquim ao Colégio Dom Pedro II e tantas outras realizações. Também advogado, fazendeiro, poeta, musicista, promotor público quando mocinho, antes de entrar para a política; coronel honorário comandante da Guarda Nacional, promovido pelo presidente da República. Hoje, além da nossa Praça Principal, também têm o seu nome o edifício da Câmara Municipal e o Colégio Escola Normal Estadual. Além de ter sua estátua em bronze imortalizando-o na “sua praça”, há, anualmente, por lei, as comemorações da Semana Arnolfo Azevedo. E importante avenida em São Paulo, a mais renomada Escola de Cruzeiro, dentre tantas homenagens.
Monumento a Arnolfo Azevedo, em seu 1º centenário
Em 1968, ano do centenário de nascimento de Arnolfo Azevedo, dentre tantas comemorações, inaugurou-se no dia 10 de novembro, pela manhã, no centro da Praça, um monumento ao grande parlamentar da Primeira República.
São quatro placas afixadas nos lados do pedestal em granito, de sua estátua esculpida em bronze, pelo consagrado escultor Luiz Morrone. Na placa de frente, consta: “A Arnolfo Azevedo, o maior de seus filhos, homenagem da cidade de Lorena. 1868 – 11 de novembro – 1968”. Na placa à direita, está “a fachada do Palácio Tiradentes – Rio de Janeiro, com as letras identificando o edifício. Como está imortalizado na história, o Palácio Tiradentes teve em Arnolfo Azevedo o seu idealizador e baluarte”. Noutro lado do pedestal da estátua, está “o Solar dos Azevedo em Lorena. E atrás, placa dizendo: “Inaugurado no Centenário de Nascimento do Dr. Arnolfo Rodrigues de Azevedo, sendo Prefeito Municipal o Sr. Antônio Tisséo”.
A estátua mede 2,30m de altura, com a base de 1,80m. O monumento foi inaugurado por seu filho, o grande professor Aroldo de Azevedo, consagrado autor de tantos livros sobre Geografia e outros mais, tais como a obra “Arnolfo Azevedo – parlamentar da primeira República”, biografia completa do homenageado, de mais de 600 páginas, obra afamada e prestigiada literariamente.
Algumas homenagens póstumas caíram no esquecimento
Embora haja lei municipal, de número 76, de 14 de novembro de 1958, instituindo anualmente a Semana Arnolfo Azevedo, essa norma legal vem sendo descumprida já há algum tempo.
Em compensação, outras homenagens se destacam, além de seu nome na Câmara Municipal e no Colégio Estadual. Em São Paulo, chama-se Arnolfo Azevedo a avenida de duas pistas que fica entre a Praça Wendell Wilkie e o Estádio do Pacaembú. Em Cruzeiro, chama-se Arnolfo Azevedo a Escola principal da cidade. Deveria ser obrigação da Prefeitura de Lorena, mandar cunhar e distribuir em premiações, a belíssima medalha comemorativa das promoções da Semana Anual Arnolfo Azevedo, festividades que nem se realizam mais, quanto mais as medalhas! Acima já enumeramos outras homenagens póstumas a Arnolfo Azevedo, cognominado de “O Maior dos Lorenenses”!
Em junho de 1891, com 22 anos, Arnolfo Azevedo, estudante de Direito. No ano seguinte, exerce o cargo de promotor público da Comarca de Lorena.
Em 1895, é eleito deputado estadual, reeleito em 1898. Eleito deputado federal em 1903, reelegendo-se ininterruptamente até dezembro de 1926, assumindo a presidência da Câmara várias vezes, quando elege-se senador da República. Em 1930, em 24 de outubro, com a vitória da Revolução, retira-se definitivamente da vida pública.
Com a família, no Solar em Lorena, comemorando Bodas de Prata, em 10 de outubro de 1916.
Título de Eleitor número 1, de 1916.
Eleito presidente da Câmara dos Deputados, esta foto foi largamente difundida pela imprensa da época.
Arnolfo Azevedo em 1925.
Arnolfo Azevedo, senador da República.
1928 – Presidente da Comissão de Finanças do Senado Federal.
Já fora da política, no Solar lorenense, em meados da década de 1930.
Verso e anverso da medalha das comemorações instituídas por Lei e que deveriam ser anuais.
O Solar dos Azevedo, em Lorena, na Praça da Catedral, de frente para a Câmara Municipal.
Todas estas ilustrações e os dados do artigo, foram extraídos do livro “Arnolfo Azevedo – parlamentar da Primeira República”, de Aroldo de Azevedo, filho do homenageado.
João Bosco Pereira de Oliveira, também conhecido como “Paçoca”, é jornalista e manteve por 40 anos o Jornal Guaypacaré, um grande marco e recorde na história da Imprensa de Lorena! 40 anos de trabalho patrocinado por anunciantes e assinantes, sem nunca ter sido mantido politicamente!
Em 1976, foi o vereador mais jovem e mais votado de Lorena, o único a recusar, por vontade própria, a “aposentadoria parlamentar”, por considerá-la imoral e injusta. Com 18 anos, foi recebido pelo presidente da República, pedindo “democracia” em pleno tempo em que não havia abertura política. Naquela época, também foi o mais jovem candidato a deputado estadual do Brasil.
Comendador 3 vezes, desde menino, trabalhou em outros jornais, antes de fundar o seu Guaypacaré. Foi jornalista responsável por inúmeros jornais de cidades vizinhas. Fundador e Presidente de Honra do Grupo Escoteiro Guaypacaré, que está prestes a comemorar 50 anos.
Teve programas nas rádios Cultura AM e Colúmbia FM. São 50 anos de jornalismo, boa imprensa, sem nenhum processo por calúnia, injúria ou difamação.
Também é membro fundador da Academia de Letras de Lorena e agora, passa a registrar a história da sua cidade de nascimento e de coração de acordo com suas detalhadas pesquisas.
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