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Lorena pertencente ao Estado do Rio de Janeiro?!

02/05/2018

Como castigo por ter sido “a capital revolucionária”, sede da presidência e do comando da Revolução de 1842 – na qual os “liberais” perderam para os “conservadores” –, Lorena foi punida com o “degredo” (“expulsão de um território, especialmente da pátria”), separando-a da Província de São Paulo e incorporando-a à Província do Rio de Janeiro! Durou pouco este degredo: apenas dois meses e treze dias, de 18 de junho a 29 de agosto de 1842. Mas Lorena pertenceu ao Rio de Janeiro!

Duque de Caxias conta sobre o “destroço” que foi a última batalha

Além disso, o famoso Duque de Caxias, no comando geral das tropas legais, contrárias aos liberais, escreveu: “… os rebeldes de Silveiras – (a maioria de Lorena, já que Silveiras pertencia a Lorena, era Freguesia de Lorena, segundo o historiador Francisco Sodero Toledo) – foram os únicos que ofereceram alguma resistência e, por isso, pagaram caro a sua audácia… Foram destroçados pelas forças legais”…

De volta à Província de São Paulo

Conta Antonio da Gama Rodrigues, em “Gens Lorenensis”, às páginas 56 e 57: “O tempo e, o salutar rotativismo da política imperial, fazendo suceder-se os Partidos, em breve tudo apagou. Pelo Decreto nº 216, de 29 de agosto de 1842, voltou Lorena e todo o seu território à Província de São Paulo”. (…) “por terem cessado os motivos que fizeram necessária a providência”, ordenando “que os ditos municípios fiquem”, de novo, “pertencendo à Província de São Paulo”…

Além de Lorena, mais 6 cidades vizinhas no “degredo”

O grande historiador Paulo Pereira dos Reis, em “Lorena nos Séculos XVII e XVIII”, conta, às páginas 260 e 261: “A revolução de 1842 provocou a desanexação temporária de municípios paulistas valeparaibanos”. O “degredo” aconteceu pelo Decreto Imperial nº 180, de 18 de junho de 1842, “ordenando que os municípios de Cunha, Bananal, Areias, Queluz, Silveiras, Lorena e Guaratinguetá fiquem desanexados da Província de São Paulo, e encorporados à do Rio de Janeiro enquanto durarem as circunstâncias, que tornaram indispensável esta providência”.

Lorena, “capital revolucionária da zona”

“Lorena havia se tornado, no Vale do Paraíba, a capital revolucionária da zona”, com a Revolução Liberal de 1842 tendo se iniciado em Sorocaba e chegado a Lorena em 1º de junho, estendendo-se às

vizinhanças e aqui durando 42 dias, até 12 de julho de 1842, quando os últimos “liberais”, resistentes, foram derrotados definitivamente pelas forças legalistas, nas trincheiras de Silveiras.

A presidência e o comando geral

Paulo Pereira dos Reis relembra: “no dia em que a Revolução chegou a Lorena, se aclamou a Junta Revolucionária, tendo o padre Manuel Teotônio de Castro, chefe político regional (filho do Capitão-mor Manuel Pereira de Castro, juiz de paz, presidente da Câmara Municipal de Lorena e futuro deputado provincial) assumido a presidência do Diretório Revolucionário e o Comando Geral das Forças Insurgentes”.

“Lorena tornou-se, assim, no Vale do Paraíba, a capital revolucionária da zona, donde o movimento propagou-se por todo o território regional, atingindo os municípios limítrofes do Rio de Janeiro”.

Assaltam o quartel e apoderam-se de todas as armas

Antonio da Gama Rodrigues, em “Gens Lorenensis”, conta, à página 52: “Deflagrada a Revolução, em Lorena, no dia 1º de junho de 1842… pelas cinco horas da tarde, por ordem do padre Manoel Teotônio de Castro, queima-se um foguete do ar, em sinal de reunião dos revoltosos, já avisados e combinados, os quais se reúnem na casa do padre, recebem ordens e dela sai logo após, um grupo de mais de quarenta pessoas, que assalta o quartel da Guarda Nacional, apodera-se de todo o armamento e o transporta à casa do padre Manoel”.

No pátio da Cadeia, vivas, sinos, foguetes e aclamação

“Mais tarde, já todos armados, e capitaneados pelo mesmo padre, se dirigem ao pátio da Cadeia, onde com muitos vivas, repiques de sinos e foguetes, proclamam presidente da Província a Rafael Tobias de Aguiar, protestam contra as leis do Código Reformado, cercam todas as entradas da Vila e se conservam em vigília até o amanhecer”.

Lorena à Vila

Angela Maria Barreto registra, à página 149, de “Lorena – Aspectos Históricos da Câmara Municipal”, que dr. Faustino César, em seu livro “Resenha Histórica de Lorena”, 2a edição, 2000, à página 72, conta-nos um episódio triste e, ao mesmo tempo, interessante: “o célebre pelourinho, plantado no Largo da Cadeia (quando da ereção de Lorena à Vila), depois removido para o Largo da Figueira, foi mandado arrasar pelos revolucionários de 1842”.

“É roupa suja”

Outro episódio interessante, conta-nos José Geraldo Evangelista, em “Lorena no Século XIX”, à página 79: “Em Lorena, o padre Manoel Teotônio ordenava que trouxessem à sua presença, “vivo ou morto”, o Cap José Vicente de Azevedo, seu cunhado, o que, segundo tradição familiar, registrada pela dra. Carlota Pereira de Queiroz, só não ocorreu porque sua esposa, irmã do padre, o escondera numa trouxa de roupa e não foi encontrado pelos mais de 60 revoltosos que invadiram sua casa. “É roupa suja” – disse um deles, ao passar pela trouxa…

Quase 1.000 homens com as mais variadas armas

No dia seguinte, continua Gama Rodrigues, em “Gens Lorenensis”: “O padre Manoel Teotônio, assumindo a presidência do Diretório Revolucionário e o Comando Geral das Forças Insurgentes, expede ordens expressas de convocação de todos os homens válidos, que possam pegar em armas, organizando forças de quase 1.000 homens, os quais armados com as mais variadas armas – reiunas, caçadeiras, lanças, chuços, zagaias – são logo militarmente distribuídos em terços e companhias”.

Faltavam munições, preparo militar e comunicação 

Angela Maria Barreto, em “Lorena – Aspectos Históricos da Câmara Municipal”, acrescenta, à página 14: “O movimento se estende por Silveiras, Embaú e Queluz… dispostos a lutar por maior autonomia, estando já prestes ao sucesso, mas… faltavam munições, preparo militar e um eficiente sistema de comunicação para possibilitar a articulação do movimento. Além disto, as tropas do governo já estavam em ação para impedir e bloquear a revolta”.

A derrota dos liderados por Lorena

Assim, as forças liberais, comandadas por Lorena, foram derrotadas. Conta José Geraldo Evangelista, em “Lorena no Século XIX”, à página 79: “A segunda e definitiva derrota dos revoltosos foi a 12 de julho de 1842, no combate das trincheiras, nas vizinhanças de Silveiras… depois de 6 horas de luta, nas quais mais de 50 revoltosos foram mortos e, muitos, feridos”.

“As Tropas Legais eram auxiliadas pelo Capitão José Vicente e comandadas pelo Coronel Manuel Antônio da Silva e, antes desta batalha final, já haviam ocupado Lorena”, conta Angela Maria Barreto, à página 148, de “Lorena – Aspectos Históricos da Câmara Municipal”.

Conclui José Geraldo Evangelista, em “Lorena no Século XIX”, às páginas 79 e 80: “Cumpria-se o que dissera Caxias – então Comandante Geral das Tropas Legais – escrevendo ao Barão de Monte Alegre: “os rebeldes de Silveiras (a maioria de Lorena e Silveiras pertencia a Lorena) foram os únicos que ofereceram alguma resistência e, por isso, pagaram caro a sua audácia. O grupo foi destroçado pelas forças legais. Foram 2 mortos e 19 feridos, enquanto os liberais – comandadas por Lorena, com maioria de nossa cidade – 50 mortos e numerosos feridos”.

“Em termos de derramamento de sangue, a revolução de Lorena foi muito mais séria do que a de Sorocaba, onde morreram 17 revolucionários”.

Anistia menos festejada que a dissolução da Câmara de 1842

Quase dois anos depois, “o povo de Lorena comemorou nas ruas a dissolução da Câmara eleita na época da Revolução, em 1842. Festejou com muitos foguetes, banda de música, espetáculo teatral franqueado ao povo e canto do hino diante do retrato do Imperador!”

Com muito mais animação e entusiasmo do que a Anistia aos revoltosos, pela qual não se animaram tanto, diz José Geraldo Evangelista, em “Lorena no Século XIX”, à página 82: “O Decreto de 14 de março de 1844, que concedeu anistia aos revoltosos da Revolução de 1842, foi menos festejado do que o de 24 de maio de 1844 seguinte, que dissolveu a Câmara de 1842”.

Banda, luminárias, teatro: nascimento do Príncipe Imperial

“E quando ocorreu o nascimento do Príncipe Imperial… em Lorena, acenderam-se luminárias nas casas, com banda de música nas ruas, teatro para o povo… tudo fazendo, diz a Câmara… porque ambicionávamos desmascarar a hipocrisia e malvadez dos inimigos do Trono, dos calamitosos dias de 1842… Esta Câmara tudo fará para fazer chegar aos olhos do nosso Adorado Monarca, tornar visível, qual luz do meridiano, seus sentimentos monárquicos constitucionais”, conforme ofício de 22 de abril de 1845.

Com a anistia, volta o padre, sempre o mais votado

Antonio da Gama Rodrigues, conclui, à página 58, de “Gens Lorenensis”: “Em 1844, são todos os rebeldes anistiados. E já em 1846, o padre Manoel Teotônio de Castro e o Tenente Anacleto Ferreira Pinto são eleitos deputados à Assembléia Provincial, voltando o padre magnífico a ser o mesmo chefe de incontestável prestígio”… “exercendo em sua terra natal todos os cargos de eleição popular, enquanto viveu e quis, sendo sempre o mais votado, juiz de Paz, vereador e presidente da Câmara Municipal”, segundo a “Resenha Histórica de Lorena”, de Faustino Cesar.

1844 e 1846: morrem os Chefes dos dois partidos

Página 58, de “Gens Lorenensis”, de Gama Rodrigues: “Da revolução restou, apenas, em Lorena, o espírito de competição ainda mais exaltado entre os dois partidos (o Conservador e o Liberal) e, sobretudo entre os dois chefes. Mas, como ambos eram poderosos, ricos, patriotas, grandes benefícios advieram para Lorena, dessa sua elevada competição. Infelizmente, pouco tempo durou. Em 5 de janeiro de 1844, falecia o Comendador José Vicente de Azevedo. E em 8 de outubro de 1846, o Capitão-mor Manoel Pereira de Castro”.

COLUNISTAS / João Bosco

João Bosco Pereira de Oliveira, também conhecido como “Paçoca”, é jornalista e manteve por 40 anos o Jornal Guaypacaré, um grande marco e recorde na história da Imprensa de Lorena! 40 anos de trabalho patrocinado por anunciantes e assinantes, sem nunca ter sido mantido politicamente!

Em 1976, foi o vereador mais jovem e mais votado de Lorena, o único a recusar, por vontade própria, a “aposentadoria parlamentar”, por considerá-la imoral e injusta. Com 18 anos, foi recebido pelo presidente da República, pedindo “democracia” em pleno tempo em que não havia abertura política. Naquela época, também foi o mais jovem candidato a deputado estadual do Brasil.

Comendador 3 vezes, desde menino, trabalhou em outros jornais, antes de fundar o seu Guaypacaré. Foi jornalista responsável por inúmeros jornais de cidades vizinhas. Fundador e Presidente de Honra do Grupo Escoteiro Guaypacaré, que está prestes a comemorar 50 anos.

Teve programas nas rádios Cultura AM e Colúmbia FM. São 50 anos de jornalismo, boa imprensa, sem nenhum processo por calúnia, injúria ou difamação.

Também é membro fundador da Academia de Letras de Lorena e agora, passa a registrar a história da sua cidade de nascimento e de coração de acordo com suas detalhadas pesquisas.


boscopacoca47@gmail.com

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