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COLUNISTAS / O saber acontece

Inverno de palavras e de ideias

17/08/2018

O aniversário passou de braços dados com o dia do meio ambiente e foi sucedido por férias, cirurgia, convalescença e início do tempo frio. Situações que, acompanhadas de um bom café, alentariam a profusão de textos e palavras. Só que não, para usar a modernidade do contraponto. Letargia atrai letargia na razão direta da baixa temperatura e na razão inversa do retrato da insistência dos afazeres. Blog e colunas ficaram falhos, quando muito reaproveitando os comentários enviados a jornais ou reciclando ideias para cumprir prazos.

Exemplo é a carta enviada para a Revista Pesquisa FAPESP e não publicada, sobre minha área de pesquisa, e lembrando que a divulgação científica é o motivo principal desta coluna: nota-se a importância da bioenergia para o Brasil em função da regulamentação da RenovaBio e das fronteiras para a produção de etanol. As biorrefinarias já implementadas – cana e eucalipto – precisam ser ampliadas para dar conta não apenas da energia, mas também dos materiais necessários para substituir as matérias-primas fósseis. Isso mostra que não há um caminho único para a bioenergia, a bioenergia é o caminho, parodiando o filósofo.

Outra para a mesma revista: a busca por soluções dentro da bioeconomia é diversificada. O aproveitamento da celulose é um resgate histórico, pois os negócios da Fibria – uma das maiores empresas de papel e celulose – se basearam no Grupo Simão, em Piracicaba, que foi antecedido por uma fábrica criada nos anos 50 para fazer papel de bagaço, então resíduo do processamento da cana-de-açúcar. A volta às origens pode representar também evolução tecnológica, como no caso da biorrefinaria de cana.

O Parsifal Barroso antes citado não rendeu frutos, a cronobiologia é o tema que queremos abordar na próxima matéria do jornalismo científico e estão me cobrando os minutos trabalhados, não mais o conhecimento que possa ser produzido. Lima Barreto pôde escrever a crônica crítica da sociedade em que vivia por meio de pseudônimos, os quais causam divergência entre os historiadores de hoje. Tenho abusado da ironia, mas já começo a receber bordoadas em meus textos, uma vez que não me permito o anonimato. É, hoje o dia está um pouco mais frio, fazendo doer as juntas, ou melhor, desregulando o fluxo sanguíneo, como aprendi com meu fisioterapeuta na sessão para esticar um pouco mais o joelho.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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