No início de junho, a população do Rio de Janeiro foi surpreendida com uma notícia especial: depois de 200 anos, a principal floresta da cidade voltou a receber as araras-canindé, também conhecidas como arara-azul-amarela. As aves, um macho e três fêmeas, fazem parte de um projeto de reintrodução da espécie no Parque Nacional da Tijuca, conduzido pela ONG Refauna, com apoio do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
E esse presente para a natureza foi possível com o trabalho realizado pelo Refúgio das Aves, do Parque Três Pescadores, um projeto ambiental que integra o complexo de visitação do Santuário Nacional de Aparecida. Durante um ano, o local foi o lar das araras, que foram resgatadas por órgão ambientais, em operações contra o tráfico de animais ou em cativeiros ilegais.


O macho, apelidado de Selton, e uma das fêmeas, chamada de Fernanda, em homenagem aos atores Selton Mello e Fernanda Torres, vieram do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres), da cidade de Araras-SP. Já as outras duas fêmeas, chamadas de Fátima e Sueli, inspiradas nas personagens da série de TV “Entre Tapas e Beijos”, são oriundas do projeto Mata Ciliar, de Jundiaí-SP.
No Refúgio das Aves, os animais foram tratados, examinados, monitorados e receberam acompanhamento de biólogo e veterinário especializados, com o objetivo de torná-los aptos para o retorno à natureza. E a oportunidade surgiu graças ao projeto Refauna, que já havia introduzido na floresta da Tijuca, espécies como cutias, antas, jabutis e bugios.
“Desde 2019, o Refauna buscava aves aptas para serem soltas no local, mas para isso era preciso que elas atendessem a uma série de requisitos sanitários e comportamentais, para esse processo. E graças ao trabalho realizado pelo nosso time técnico, nossas araras estavam prontas para essa missão de repovoar a floresta da Tijuca”, disse Juliana Fernandes, bióloga do Parque.


As quatro araras-canindé saíram de Aparecida no último dia 6 de junho e agora passam por um período de aclimatação em um viveiro instalado dentro do Parque da Tijuca. A soltura definitiva deve ocorrer entre 4 e 6 meses. Após esse período, as aves serão monitoradas por radiotransmissores e anilhas coloridas. A última presença registrada da espécie em vida livre no Rio de Janeiro ocorreu em 1818.
Além de sua beleza única, com as cores marcantes da bandeira nacional, as araras-canindé têm papel essencial na dispersão de sementes, contribuindo para a regeneração da mata atlântica e contribuindo com o funcionamento do ecossistema. Nos primeiros dias, elas serão alimentadas com frutas e ração, mas aos poucos serão incentivadas a consumir os frutos nativos. Ninhos artificiais também foram colocados no viveiro para auxiliar na adaptação.
“No mês de julho, o Parque Três Pescadores completará seu primeiro ano de funcionamento e a gente fica muito feliz em celebrar esse marco dando esse presente para o meio ambiente. Uma confirmação de que nosso trabalho de acolhimento e tratamento desses animais, está gerando resultados importantes”, celebrou Fernando Ramos, gerente do Parque.