Seleção para um curso de jornalismo científico na Unicamp e uma das provas foi a elaboração de um texto discursivo, baseando-se na participação do Brasil no telescópio internacional em construção no deserto chileno, para o qual valores grandes têm de ser repassados para a sociedade astronômica responsável, caso o país queira de fato ser um dos parceiros.
Discorri sobre questões históricas de nossa tardia formação como povo, ocorrida somente depois da vinda da família real portuguesa em 1808 e com movimentos de consolidação nacional conduzidos por um grupo pequeno, uma elite nacional, que não tinha por preocupação ou estratégia levar o povo consigo. Mesmo o período republicano é uma sucessão de golpes, com poucos períodos de governos legitimamente eleitos.
Lembrei do complexo de vira-latas, plasmado por Nelson Rodrigues, e que o Brasil viveu recentemente um período de maior protagonismo e inserção internacional, mas que foi duramente interrompido no último ano.
Foram argumentos para tentar explicar – e não justificar – a ausência de políticas públicas de maior vulto para o desenvolvimento de nosso país. Falta-nos um Sputnik, afirmei no texto manuscrito, como fez a extinta União Soviética para envolver a população em um projeto estratégico, mas que trouxe avanços científicos e tecnológicos que pudessem ser estendidos a todos.
Sem dúvida citei Euclydes da Cunha, o escritor que era, antes de tudo, um forte. Finalizei com um trocadilho dizendo que o país não pode plantar uma desértica bandeira em relação a sua ciência e tecnologia.
O texto encontra-se em arquivos da Unicamp e quiçá possa vir a público na forma como originalmente escrito. A memória é uma manifestação extraordinária da consciência, mas é falha e seletiva, muito seletiva. Talvez ao ler meus garranchos naquele papel almaço, não reconheça minhas próprias afirmações.