Um “Largo” com mato e animais
Antes de ser a Praça Principal Arnolfo Azevedo, toda aquela área central chamava-se Largo Imperial. Era um campo abandonado, cheio de mato, tendo a cortá-lo apenas um caminho de carroças, burros e cavalos. Servia de pasto também para o gado, chiqueiro de porcos, lugar onde dormiam os tropeiros que passavam pela Vila.
Ali enforcavam os condenados
Ali armou-se, por várias vezes, a forca, para executar os condenados à morte, geralmente escravos envolvidos em brigas com seus feitores ou outros crimes. O carrasco era um dos presos da Cadeia de Lorena ou de outras cidades, e os enforcamentos atraíam grande número de espectadores.
Mas a forca ficava armada no Largo, à disposição de quem quisesse usar a madeira… e ninguém a levava porque havia uma lenda dizendo que “aquela madeira dava azar”!
Morreu antes de ser enforcado
Faustino Cesar, em “Resenha Histórica de Lorena”, conta, à página 73: “Foi condenado por sentença do Júri de 9 de fevereiro de 1854 à pena de morte, José Lemos, por ter assassinado seu tio e padrinho, o Guarda-Mór Bento Fernandes Simões, para ganhar $ 4000 e um ponche. Já se via a forca levantada no Largo do Cemitério, e se aguardava a chegada do mísero paciente para a realização do triste espetáculo, quando chegou a notícia que Lemos tinha falecido de varíola na Cadeia Pública de S. Paulo”.
Por vingança, matou a foiçadas
É ainda Faustino Cesar quem conta, mais à frente, às páginas 74 e 75: “Em dezembro de 1862, o Júri condenou à pena última, o preto Benedito, escravo de Manoel Galvão de Siqueira… Benedito deitou fogo à casa de Galvão e esperava à porta para matá-lo a foiçadas, como fez, isto por ter Galvão morto barbaramente sua mulher e maltratado muito a ele e a seus parceiros, cujos dentes chegara a arrancar com torquês para que não fosse chupar cana nos canaviais!”…
O carrasco nomeado recusou-se a enforcá-lo
Continua Faustino Cesar: “Deixou Benedito de ser enforcado porque o preto galé, que viera de São Paulo para carrasco, quando aqui chegou e sabendo quais as funções que tinha de exercer, recusou-se terminantemente a prestar-se a isso, escrevendo ele próprio a lápis na grade da Cadeia uma carta ao Juiz Frederico Hummel, declarando positivamente que ‘não enforcava o paciente e que tinha vindo iludido’. Até que se apresentasse novo carrasco, Benedito foi transferido para a Cadeia de Pindamonhangaba, então mais segura que a daqui, e lá faleceu o pobre condenado”.
Enforcamento em 19 de fevereiro de 1886. Vigário pede a demolição da forca por causa da procissão
Mas José Geraldo Evangelista, no “Jornal Guaypacaré”, de 17 de outubro de 1991, republicado no livro “Retalhos Históricos de Lorena”, em 2001, conta que em 1886, foi construído ali “o cadafalso para execução do réu Benedito, escravo que assassinou a seu senhor Manuel Galvão de Siqueira”. E diz que o enforcamento foi em 19 de fevereiro de 1886, no Largo Imperial, depois Praça Arnolfo Azevedo. E continua José Geraldo Evangelista: “… os vereadores se esqueceram de mandar demolir a forca. Foi preciso um pedido especial do Vigário Padre Justino, por ter de passar por ali as procissões principais das Solenidades da Paixão”.
Os presos negavam-se a serem carrascos
José Geraldo Evangelista, registrou, em “Lorena no Século XIX”, às páginas 64 e 65: “… Os assassinatos de senhores ou de feitores, como os ocorridos em 1835 e 1839, eram punidos inexoravelmente com o enforcamento. A forca era armada no Largo do Cemitério ou no Largo Imperial, para cada execução; e a negativa dos presos, de servirem como carrascos, podia causar algumas dificuldades”.
Citamos apenas poucos casos, mas registrados por grandes historiadores, provando que praticava-se enforcamentos, muitos dos quais na área que deu origem à Praça Arnolfo Azevedo.